sábado, 12 de dezembro de 2009

Ao ler essa matéria achei super interessante e acredito que esteja dentro do contexto dos nossos estudos.

Vale a Pena Ler a Literatura Brasileira Contemporânea?

Bom, vamos aos fatos: a literatura contemporânea que temos é essa aí. Ponto. Boa ou ruim, ela existe. Está nas livrarias e bibliotecas e, aceitando ou não, são livros já publicados. Outro ponto: ainda não é possível analisarmos tais obras com grande isenção, por causa de uma série de fatores. Às vezes somos benevolentes, outras vezes beligerantes. Então, com o passar do tempo – e o marketing se preocupando menos com a obra – as qualidades que vimos serão ou confirmadas ou descartadas. Outras vezes os erros que apontamos passam a ficar cada vez menores e na balança, a obra acaba sendo melhor avaliada. Com isso em mente, acho que tanto os que afirmam que não vale a pena, como os que afirmam que vale a pena, têm razões válidas.
Os que afirmam que não vale a pena a leitura de literatura contemporânea têm um ótimo motivo para isso: de tempos em tempos, um autor (que ninguém sabe bem o porquê) é eleito pela mídia como favorito e passa a carregar o rótulo de ‘modelo a ser seguido’. Daí, vários outros autores menores se espelham nele (que é a unanimidade) e começam a escrever segundo aquele modelo. Poucos inovam, muitos pioram o que já era duvidoso. Como todos estão sendo influenciados a apreciar certo estilo, aquele autor menor acaba vendendo bem, incentivando outros menores ainda a seguirem a mesma trilha. Portanto, todos que estão acostumados a tentar separar o joio do trigo já sabe o resultado disso. Os anos noventa ainda estimularam essa atitude por causa de alguns agravantes. O resultado geral costuma ser tão ruim, que é melhor esperar algum tempo para melhor perceber quem realmente prevalecerá como sinônimo de qualidade.
Os que afirmam que vale a pena (e me incluo entre esses) a leitura, reconhecem que sempre existe aquele desejo insaciável de descobrir um bom livro, um livro surpreendente, que faça valer nosso tempo. E descobrir bons livros é uma sensação muito boa. Como não gosto de perder tempo com livros ruins – aliás prefiro ser visto como preconceituoso a ler um livro ruim somente para ter o direito de criticá-lo – valorizo bastante um bom livro e os ruins que eventualmente caem em minha mão, procuro descobrir o quê exatamente falta. O exercício serve de estímulo para aprimorar a capacidade de apreciação de uma boa obra. Por mais seletivos que sejamos, se lemos com regularidade, eventualmente apanhamos um livro ruim. No caso da literatura contemporânea, a possibilidade aumenta, conforme mostra o parágrafo anterior.
Portanto, acredito que é salutar um certo equilíbrio. Não vejo com bons olhos a afirmativa de que é preciso ler tudo o que é publicado para que se possa descobrir o que é realmente bom. Mas também não acho que o leitor deve simplesmente se isentar da literatura contemporânea pelo simples fato de que é bastante difícil ler algo bom hoje em dia. Por exemplo, da lista citada no primeiro post, já escrevi sobre “Nove Noites” de Bernardo Carvalho, que é excelente. Claro que é impossível não notar que falta algo na literatura atual. Mas ao mesmo tempo, seria uma injustiça não procurar destacar a qualidade de alguns escritores contemporâneos.
Fonte: odisséia literária
Poemas

A função de ler os poemas e interpreta-los é buscar uma definição de que é poesia . As formas são deiferentes mas, convergíveis , a ideia de contínuo , descontínuo, talvez não se consiga achar uma definição. Porém o que se pode conseguir é aprender a entender o poema, o valor das imagens, as palavras que projetam sejam através da visão ou da audição ; e outra maneita é procurar a ler e entender um poema.

ZUNÁI - Revista de poesia & debates


ZUNÁI EM DEBATE

É possível conciliar experimentação formal e lirismo na criação poética?


Adalberto Muller: A oposição posta aqui entre lirismo e experimentação estética me lembra a oposição famosa que Valéry discutiu, sobre poesia e pensamento abstrato. Como ele, gostaria de encurtar a distância que parece estar separando essas noções, lirismo e experimentação estética. Em primeiro lugar, pergunto-me: o que se entende aqui por "lirismo"? Um tipo de poesia que exprime emoções, que lida com temas amorosos, ou, no mínimo, sentimentais, tudo envolto numa atmosfera antiquada e pesadona? Por outro lado, a expressão "experimentação estética" parece evocar procedimentos típicos da modernidade e das vanguardas, que, por sinal, abandonaram os velhos temas da tradição do "lirismo". Do modo que está, então, posta essa questão, diria que as duas noções são excludentes, num primeiro momento. Pois a experimentação estética da alta modernidade (com Baudelaire, Mallarmé, Eliot, Drummond, Concretismo), ao negar as formas clássicas do lirismo, negou também sua vertente temática mais sentimental, herdada do romantismo. O famoso mini-poema de Oswald justamente desconstrói esse lirismo: "AMOR // humor". Por outro lado, como ouvi certa feita de Paulo Henriques Britto, a demanda lírica da sociedade foi passando paulatinamente para o território da canção popular, assim como a demanda narrativa, anteriormente coberta pelo romance, foi passando para o cinema e a tevê. A canção popular, até bem recentemente, nada mais era do que um lugar de expansão de velhos temas do lirimo. Isso ocorre, por exemplo, na chamada canção "romântica", que, nos anos 50, no Brasil, tratava basicamente da chamada "dor-de-cotovelo". No que tange a poesia, e particularmente a poesia brasileira, ficamos bastante marcados pelo anti-lirismo de João Cabral. O que ele queria dizer com anti-lirismo? Uma poesia que não trata, justamente, da dor-de-cotovelo. É preciso lembrar que a poesia de Cabral surge no auge desse tipo de canção, que, quase exclusivamente, trata de amores e desamores; na época de Dolores Duran, Linda Baptista, Herivelto Martins, Elizete Cardoso. Então, o que João Cabral propõe é uma espécie de "limpeza", uma poesia voltada para as coisas, uma poesia que nega o sentimento (atenção: não se pense que negue a subjetividade!) em favor, justamente, da experimentação. Antes de Cabral, Drummond, com todo o seu sarcasmo, já dava marretadas no lirismo sentimental (veja-se o excelente "Necrológio dos desiludidos do amor"). Mas felizmente tivemos também um Manoel Bandeira, em cuja poesia o lirismo ressurge no que ele tem de primordial, de grego, mesmo: a associação entre o canto e o mundo dos afetos. Não nos esqueçamos que a origem do lirismo é grega, e tem a ver com o fato de Orfeu ter feito uma lira com suas tripas, para resgatar sua amada Eurídice do inferno. Estamos marcados por esse gesto, ainda que seja um mito. É verdade, porém, que, entre os jovens poetas, os temas tipicamente líricos não estejam muito na ordem do dia. Recentemente, organizando uma antologia cujo tema é Amor e Morte na poesia brasileira, pude constatar que grande parte dos poetas contemporâneos pouco escreve (pelo menos diretamente), sobre esses temas essenciais do lirismo ocidental. Em muitos casos, por influência de Cabral e dos Concretos, ou ainda, por infuência dos poetas americanos (como os imagistas, os objetivistas e os da L=A=N=G=U=A=G=E). Aos jovens poetas, interessa mais a anotação das sensações, mais que dos sentimentos. E mesmo os sentimentos, no mundo pós-modernos, se modificaram, sobretudo com a diversificação sexual mais explícita, e com a sensível modificação das práticas erótico-amorosas. De minha parte, acredito que lidar com temas líricos como o amor (e suas adjacências), não significa abrir mão da experimentação (ou seja, da modernidade). Meu mentor, nesse caso, é o poeta que, a meu ver, melhor soube conciliar os temas clássicos do lirismo com a experimentação estética mais ousada da poesia moderna: e.e.cummings. Gosto de escrever sobre temas que deveriam ser expressos em elegias, odes ou epitalâmios, mas submentendo-os a uma nova configuração verbal e gráfica. É o que tentei fazer, em boa parte dos poemas que publiquei em Enquanto velo teu sono. Num dos poemas desse livro, por exemplo, exploro a possibilidade de falar do amor sem nomear expressamente o verbo amar, mas apenas aludir a ele:
ENQUANTO

rabisco um verso
mil trilhões de estrelas
brilham - estralam? -
e euponto perdido no universo
entre mercúrio e urano
arrisco um verbo
que
nos
constela.

Em suma, acredito que os grandes temas líricos, na mesmo medida em que ganham novas formas de expressão, vão também influenciando a formação de novas experiências e experimentações. Pois o amor, que é a base e o fundamento do gesto órfico, não é uma experimentação - e o que é mais - estética?
Adalberto Müller nasceu em Ponta Porã (MT) em 1966. Publicou Ex Officio (Paris, 1995) e Enquanto velo teu sono (7 Letras, 2003), além de traduções de Ponge, Celan e e.e.cummings (a sair, pela editora UnB, coleção poetas do mundo). É professor de literatura e cinema na UFF.
Entrevista de Adalbert Muller a revista Zunái, especializada em poesia.
Zunái ano v - Edição XVIII- agosto de 2009




Adalberto Muller nasceu na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Ponta Porã. Do outro lado se chamava Pedro Juan Caballero. Filho de um teuto-brasileiro com uma paraguaia, cresci ouvindo 4 idiomas: português, espanhol, guarani e alemão. Da rua onde eu morava (Avenida Internacional), era possível ver o outro lado, o Paraguai, pois a fronteira é seca, ela pode ser cruzada a qualquer hora, a pé ou de carro, sem controles de passaporte. Mas só quem nasceu lá sabe onde se pode e onde não se deve cruzar a fronteira. Quando pequeno, me disseram que a separação entre os dois países era uma tal “linha imaginária”. Nunca consegui ver a linha, só os dois marcos de concreto (um em cada extremo das cidades). Aos poucos descrobri que havia vários tipos de fronteira. Inclusive internas (...)
Minha experiência de fronteira está registrada de maneira sintética num poema que publiquei no livro Enquanto velo teu sono (7Letras, 2003), e creio que ele define o tom do documentário de poesia:


Épura
Já não estou mais
onde nasci
nasci onde
nunca estive
hoje vivo
na fronteira dos ventos
na linha imaginária
que sobrou entre os marcos
Invisíveis de um mundo
que se move

Adalberto Müller, Enquanto velo teu sono, 2003.
Resenha de Enquanto velo teu sono / Diário Catarinense - caderno Cultura (29/05/04) / Correio Brasiliense - caderno Pensar (26/06/04)
ADALBERTO MÜLLER: A TRADUÇÃO DA MELHOR TRADIÇÃO Ricardo Pedrosa Alves

Enquanto velo teu sono é um livro de afirmação. Se na primeira publicação, em geral os poetas apenas praticam a gestação, é na segunda que a legitimidade deve se configurar. É preciso ser mais poeta no segundo livro. E Adalberto Müller consegue, ao usar palavras para escrever coisas que nem sempre podem ser postas em palavras: configura-se aí o poeta, não mais em gestação.Paulo H. Britto, na orelha do livro, assinala que "não há melhor laboratório para a criação poética do que a tradução de poesia. O trabalho de recriar no seu próprio idioma a experiência poética vivida numa língua alheia apresenta ao poeta-tradutor todos os problemas formais da criação poética, fornecendo-lhe apenas um ponto de partida de natureza já textual, o que nem sempre é o caso quando se trata de compor um poema novo". A questão é até que ponto este privilegiado exercício de técnicas não implica apenas na construção de poesia de gabinete, uma poesia de CDF's. Adalberto lançou traduções de poetas franceses, ingleses e alemães. Sei também que é perito tradutor de cummings. Escreve muito bem em francês e em espanhol. Insere-se numa tradição, a da origem da nossa poesia. Para quem não sabe, o primeiro livro impresso por um brasileiro, em se tratando de poemas, foi "Música do Parnaso" (1705), do baiano Manuel Botelho de Oliveira, que trazia versos, além dos em português, em latim, em espanhol e em italiano, ou seja, uma obra latino-ibérica.Quero falar da tradução da tradição, o que implica em ver o momento atual (dos anos 80 para cá) como de revaloração da nossa herança poética (menos que a incorporação de novos repertórios): o momento anterior representou o amálgama entre poesia e produção crítica (mais a produção de traduções), além da conquista do rigor, da revisão do modernismo a partir do concretismo e da abertura às outras linguagens, seja a visual ou a musical. Ler a tradição para a transgredir foi o que as vanguardas impuseram aos poetas seguintes. Estava criada a tradição da transgressão. Vamos analisar como a leitura da tradição operou nos poemas de Adalberto Müller (sintomático: agora o autor extraiu o "Jr." que o acompanhava no primeiro volume, como um ato falho de excessiva postura de discípulo, já superada).Importa-nos assinalar o aprendizado desta outra faceta da tradução poética (a leitura criadora), não a que se faz entre duas línguas, mas a que se dá entre duas ou mais linguagens, a tradução da tradição. Se no primeiro livro, a plaquete Ex Officio (1995), é cansativa a postura rebarbativa de aluno de João Cabral, principalmente a overdose de aproximações poéticas à pedra enquanto vórtice, se ali não se tinha muita esperança de um poeta vigoroso, no segundo isso acontece. Ser aluno de João Cabral em si não é um mal, ser só aluno é que é mal. E foi até um pecado comum. Benedito Nunes, analisando a poesia dos anos noventa, disse sobre a matriz daquela geração: "a influência maior é seguramente João Cabral de Melo Neto, imitado, glosado e assimilado".Agora, em Enquanto velo teu sono, as imagens saem do João Cabral-clichê-pedra para lerem o melhor João Cabral, o das imagens surrealistas da primeira fase, como na "Pedra do Sono" (1940-41), em que sonhos de insone trazem imagens como brumas do pensamento. O sono, o silêncio, o oco. Também há na primeira fase de João Cabral o frásico, o que o aproxima, neste período, aos poetas de expressão francesa Michaux e Francis Ponge, (de quem Adalberto Muller também é cultor: traduziu de Ponge "Le parti pris des choses"). É o melhor Cabral e o melhor Müller, pois vê com olhos de Picasso e monta os poemas quase como no cubismo da fase azul do artista plástico, onírica. Nesse sentido, o livro de Adalberto essencialmente rompe a oposição entre criação e crítica, como fazem desde sempre os melhores poetas. Ao traduzir também linguagens, o ganho em originalidade é estabelecido, pois provém da melhor origem. Percebo isso na série que dá título ao livro. No poema "Enquanto velo teu sono", trata-se de passar ao lado da lembrança daquilo que foi esquecido. Lembrar-se do que não pode ser esquecido porque não foi inscrito. É possível ? Trata-se de uma presença que o espelho não pode refletir, mas que o quebra em migalhas. Algo fora do espaço-tempo, como na metáfora. Nesse sentido, um certo alheamento, um certo desterro seriam condições ideais para a melhor apreciação do livro do poeta de Ponta Porã, nascido em 1966. Trata-se da busca de uma presença fora do espaço-tempo, ou seja, algo que ainda não é presente ou já não é presente. Os últimos versos do poema:
A cama toda se alagandoentra por meus olhos cheiosdo líquido que derramamteus cabelos.
É preciso saber dosar a beleza. Não perfumar a palavra flor. Certa beleza excessiva e flácida me irritou no livro. O pendor pelo preciosismo, baseado numa tendência ao culto do "elevado" como legitimação do poético. Às vezes fica meio livresco, com cheiro de dicionário (a poesia de CDF's). Em entrevista no livro Musa paradisíaca (2004), o próprio poeta afirma que a tradução o levou a inúmeros dicionários, "que hoje são meu escudo contra a facilitação ou contra o falseamento da expressão a que a língua - no estado em que a herdamos - nos condiciona". Mas nem sempre dicionário demais é bom, soando às vezes como a facilitação (citação gratuita) que deveriam combater. O carioca Carlito Azevedo, de dicção poética bastante próxima da de Adalberto Müller, adverte para o culto da cultura em detrimento da vivência, do culto da experiência, como característica dos poetas de nossa geração. Os poetas atuais estariam vivendo experiências de laboratório, de gabinete (caso em que também se poderia enquadrar Carlito Azevedo). Se não é sintático este culto do "elevado" em Adalberto, ao menos é vocabular, o que torna muitas vezes piegas as palavras 'poéticas pela própria natureza'. Perfuma-se a palavra flor. Ocorre que cada palavra (à diferença do timbre, na música, ou do matiz, na pintura) traz em si uma história: como então conseguir a apresentação num poema ? A solução kantiana é a da evocação (apresentar o inapresentável), ou seja, uma apresentação negativa. O que é sublime é que ocorra (o poema) em vez do nada. O sublime é agora e é na contenção que o grandioso se apresenta. Mas a contenção já se aproxima na poesia de Müller. Percebo uma dicção mais contida, talvez influência de Paul Celan (e de cummings, outro exímio montador pós-cubista) e a busca das palavras essenciais, não supérfluas ou superficiais. Talvez seja este um grande novo caminho que se abra, embora o surrealismo também possa eclodir em sua poesia futura, pois o poeta aprecia a lucidez, embora de porre, como nos adverte no início do livro. A melhor poesia que Adalberto pode nos legar é a que procura a melhor tradição, conseguindo liberdade para construir seu próprio caminho poético, tratado de forma emblemática no poema como no poema é pura.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

SINOPSE: O Escaravelho de ouro

O Escaravelho de ouro
Trata-se de um conto ambientado no século XIX, numa pequena ilha ao sul dos Estados Unidos, no estado da Carolina do Norte. A narrativa tem como fulcro a história de três amigos (e um cão Terra Nova) numa caça ao tesouro perdido. O ponto central é o escaravelho de ouro, encontrado numa praia, torna-se, a partir daí, objeto de devoção e de apreço do senhor Willian e cerne do qual se desencadeia as ações da narrativa.
O escaravelho de Ouro é um conto (arabesco) que congrega três personagens: Willian Legrand, um homem que perdeu todos os seus bens no continente e resolveu residir em uma pequena ilha; Júpiter- amigo fiel e espécie de escudeiro que o acompanha sempre; e o narrador, que atua afetivamente na história como narrador-personagem.
O desencadeamento da narrativa inicia quando Willian Legrand encontra na praia um escaravelho de ouro e um pergaminho com desenho de uma caveira. A partir daí, o Willian começa a ter seu comportamento alterado de forma abrupta, a ponto de se questionar sua sanidade mental. Júpiter e o narrador-personagem desconfia que seu sofre de um mal.
O escaravelho passa a ser ponto de discórdia entre os amigos, uma vez que afetara de forma decisiva o pensamento do “sinhô” Wiil. Com poucas palavras, Willian Legrand mergulha em si , sobretudo nos objetivos que tencionava que só ele sabia.
Com tantas ideias, convenceu Júpiter e o personagem-narrador a embrenharem-se na selva densa e inóspita sem, contudo, saber a finalidade daquela feita. Entretanto, para não deixá-lo ir só na dita empreitada, acompanham-no, sobre a condição de que ele se cuidaria com um médico ao voltar.
Legrand, na verdade, estava à procura de um tesouro de pirata. Em seu achado (pergaminho), encontrou signos que passou a decifrar, desenhos que passaram a conotar sentidos mais emblemáticos: iminência de um tesouro pirata, enterrado aos pés de uma arvore.
Uma vez na selva, Júpiter, o personagem-narrador e o senhor Wiil cavavam o solo em busca de um tesouro perdido. Entre sanidade e loucura, todos estavam extasiados com aquele momento atípico: três homens na madrugada a cavar um buraco sem nenhum motivo provável. Enfim, depois de alguns erros de cálculos e retorno das atividades de cavouqueira encontram um baú repleto de jóias de ouro e diamantes. O escaravelho, fora por sinal, apenas um subterfúgio, toda simbologia, todo arcabouço teórico-interpretativo para se chegar ao tesouro estava em um pergaminho.
Depois de ter obtido êxito, e solenemente ter recuperado o status de são, Willian Legrand passou a explicar um método de análise que o levou ao descobrimento do tesouro. O conto (arabesco) remonta ao suspense, ao ambiente de mistério, de investigação.
Boa leitura e boa caça ao tesouro ao leitor que se aventurar!!!
O barril de Amontillado - SINOPSE



Montresor guarda consigo forte mágoa contra Fortunato, que o injuriou várias vezes, e decide vingar-se dando fim à vida de seu desafeto de maneira que a vítima saiba quem se vinga e que o crime permaneça impune.

Fortunato somente descobre seu funesto destino quando não mais pode evitá-lo. Montresor concretiza sua vingança e permanece impune.



POE, Edgar Allan. O barril de Amontillado. In: Histórias extraordinárias. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008, pp. 101-108
Considerações sobre o conto O Barril de Amontillado - POE



Edgar Allan Poe soube, como poucos, abordar terror, mistério, sentimento e fantasia. Os temos por toda sua obra em cujo conteúdo depara-se com o bizarro, como em Os Crimes da Rua Morgue¹; com o sobrenatural; com o extraordinário; com sentimento de vingança, como no conto em questão e diversos outros temas menos comuns na literatura ocidental.

De fato, Poe foi pioneiro da moderna corrente de escritores que tem como tema o crime e o mistério por meio da figura do detetive.

Um dos que o seguiu foi Sir Arthur Conan Doyle, criador da personagem que melhor encarna a figura do detetive: Sherlock Holmes. Tamanha proporção tomou esta personagem, que Sherlock Holmes foi trazido de volta, dez anos depois de morto em livro, através das mãos do autor em mais algumas de suas obras. Doyle foi também consultor da Polícia britânica em diversos casos de crimes reais nos quais seu auxílio, pautado nos mesmos moldes de dedução de Holmes nos livros, levou a polícia a solução dos casos. Sherlock Holmes ganhou as telas em diversos momentos e encontra-se presente no imaginário de boa parte da humanidade.

Existem várias citações (em tom de crítica) das personagens de Poe nos livros de Doyle. Logo em seu primeiro livro, Um Estudo em Vermelho, Sherlock Holmes, quando comparado com Dupin, classifica-o como “um sujeito bem inferior”.

O Barril de Amontillado,³ conto escolhido para análise, trata de vingança, um tema bastante recorrente e comum, não tivesse dado Poe vida ao lugar comum de forma tão criativa. A premeditação da personagem principal elaborada no texto é eficaz e tem um desenlace extraordinário ao final.

O conto serviu de inspiração para filmes, peças teatrais e até mesmo para uma música do grupo The Alan Parson’s Project.

O barril de Amontillado é escrito em primeira pessoa, o que de certa forma torna o texto mais realístico e auxilia no desenvolvimento da trama. O tema vingança é tratado de maneira técnica e com frieza por parte de Montresor, personagem principal.

Figurativamente o núcleo do título do conto, barril, representa o desfecho da trama, especialmente levando-se em consideração que o barril não aparece no enredo a não ser como engodo para que Fortunato, a vítima da vingança, comporte-se de maneira que vá ao encontro dos planos de Montresor.

Montresor comete um ato perverso. Psicologicamente, a personagem principal é classificada como perversa: não possui sentimento de culpa ou angústia; mantém forte relação com a realidade; suas funções cognitivas estão preservadas; sua relação com a Lei é ambígua, pois sabe que esta existe e ainda assim faz a própria lei, e mantém, como todo perverso, vida dupla, sua vida criminosa aparta-se totalmente de sua vida social.

Montresor segue fielmente a estrutura do ato perverso: em sua relação com o outro, ignora a condição de sujeito da vítima, reduzindo-o a condição de objeto.

O conto de Edgar Allan Poe tem como assunto a vingança, mas não uma vingança qualquer. Segundo a personagem principal, uma vingança deve apresentar alguns aspectos para que se torne perfeita: a impunidade da chamada pena aplicada cujo autor jamais deve sofrer em razão de seus feitos, e o reconhecimento, por parte daquele que se torna alvo do revide posterior, da identidade de quem a perpetrou.

Montresor, a personagem principal, elabora o plano perfeito e põe-no em ação durante o carnaval italiano, quando, aparentemente por acidente, esse encontra Fortunato bastante embriagado e dá assim os primeiros passos além do que o Direito denomina cogitação e atos preparatórios. Assim, dá início à execução do que virá a ser o infortúnio da vítima quando consumada.

Conduz sua obra por meio do elaborado ardil. Sabendo ter-se a vítima em alta conta como enólogo, utiliza como engodo a existência de dúvida quanto à origem de um pretenso barril deste vinho, tão raro em pleno carnaval.

Em que pese seu nome, a vítima tem a fortuna voltada contra si rapidamente. Como que por vontade própria, Fortunato age ao encontro aos planos do agressor e o segue até as entranhas das cavernas de salitre, que, prestavam-se à catacumbas da família Montresor e faziam as vezes de adega quando do ato no qual passaram, convenientemente, a repouso de um membro de outra família.

O brasão dos Montresor é um detalhe que praticamente inspira a compreensão do conto: um enorme pé humano de ouro sobre um campo azul; o pé esmaga uma serpente cujos dentes estão cravados no calcanhar A legenda: Nemo me impune lacessit (Ninguém me fere impunemente). (POE, 2008, p.104).

O sombrio percurso, feito pelos dois, é úmido e embriagante como as garrafas de vinho sorvidas, e termina em uma mórbida cripta onde se dá o desfecho extraordinário deste conto.

Montresor com agilidade algema Fortunato à parede do nicho especialmente reservado para ser sua cela mortal. Este percebe lentamente a terrível trama da rede que o captura na medida em que aquele, com camadas de pedras e argamassa, sela seu destino com a última pedra acomodada. Após recolocar o velho monte de ossos, que permanece sem perturbação por meio século, esconde sua vingança - bem sucedida afinal.

Cask, barril em inglês, núcleo do título deste conto, representa muito bem este final, no qual o alvo da vingança jaz contido por trás de ossos empilhados.





1 - POE, Edgar Allan. Histórias extraordinárias. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

2 – DOYLE, Arthur Conan. Um estudo em vermelho. São Paulo, Círculo do Livro, s/d.

3 – POE, Edgar Allan. O barril de Amontillado. In: Histórias extraordinárias. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008, pp. 101-108.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O coração delator

Sinopse: É a história de um homem que nega sua loucura e que está decidido a provar ao leitor de seu pensamento. Loucura, essa, se deu por um olho. Sim, um olho de pupila azul clara um tanto embaciada de um velho - que nunca lhe fizera mal - que morava na mesma residência. Logo no terceiro parágrafo confessa o assassinato com tranquilidade. O narrador se preocupa mesmo é com os detalhes de seu plano perfeito. Todas as noites ele ia até o quarto do velho e esperava pelo momento certo de cometer o assassinato, mas o olho nunca vinha... Até a oitava noite. Como se livrou do corpo? Simples, esquartejou o cadáver (cortou-lhe a cabeça, os braços e as pernas) e depois levantou três tábuas do soalho, ajeitou tudo no vão e tornou a colocar as tábuas no lugar. Após ter cumprido sua "missão", oficiais de polícia apareceram no local por conta do barulho denunciado por um vizinho. Nada tinha a temer, o crime era perfeito... Mas a loucura voltou. O barulho em sua mente era insuportável, não podia mais aguentar! Pronto, confessou o crime.


Características:

* Narrador em 1ª pessoa.

* Distância temporal.

* Personagens: O narrador, o velho, três policiais e um vizinho.

* Ausência de diálogos. Apenas duas falas (págs. 229 e 233).

* Nó: O olho do velho e o drama para cometer o assassinato.

* Desenlace: O assassinato.

* Grotesco.

* Efeito de suspense: A demora para cometer o assassinato e o desespero do narrador pela possível sobrevivência do velho.

* Frases curtas ("É verdade! / Agora, vejamos. / O senhor julga-me doido.").

* Descritivo (pág. 230 - "Não era um gemido de dor ou aflição - oh, não! Era o som abafado que sobe do fundo da alma carregada de pavor."), Deliberativo (pág. 228 - "Como então, posso estar louco? Escute! e observe com que lucidez - com que calma eu lhe posso contar a história.") e Narrativo (pág. 231 - "Depois, levantei três tábuas do soalho, ajeitei tudo no vão e tornei a colocar as tábuas, com tanta habilidade e tanta astúcia que nenhum olhar humano - nem o dele - poderia notar a menor anormalidade.").



http://www.youtube.com/watch?v=6D7aUJToxDg
(Animação do conto)

O Sistema do Doutor Alcatrão e do Professor Pena

Trata-se de um conto escrito na primeira pessoa. A história se passa no sul da França, onde o narrador visita um estranho estabelecimento isolado, certo manicômio dirigido pelo Dr. Maillard. Neste manicômio, os loucos são tratados por uma espécie de sistema, o “sistema de brandura” - uma espécie de teoria de cura em liberdade - na qual os pacientes não eram contrariados nas suas alucinações e fantasias. O tal doutor acreditava que podia curá-los dessa forma. Este leva o visitante a percorrer o estabelecimento e em um estranho banquete, ele encontra pessoas muito bem vestidas e educadas. É nessa altura que o narrador percebe que durante a vigência do “sistema de brandura”, os internados se tinham revoltado, encarcerado os médicos e enfermeiros e tomado conta do lugar.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Rollmops:







LEMINSKIANA

(Marcelo Sandmann)
meio op meio pop meio vladimir propp ao fim & ao cabo ops! muito rock'n'rollmops

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Breve Biografia de Paulo Leminski

Paulo Leminski nasceu em Curitiba em 1945. Poeta de vanguarda, letrista de música popular, escritor, tradutor, professor e, pode parecer inusitado, mas ele também era faixa-preta de judô.
Mestiço de pai polaco com mãe negra, sempre chamou a atenção por sua intelectualidade, cultura e genialidade. Estava sempre à beira de uma explosão e assim produziu muito: é dono de uma extensa e relevante obra.

Sua estréia como escritor foi na Revista Invenção, do grupo concretista de São Paulo em 1964 aos 18 anos de idade. Mas durante as décadas de 60, 70 e 80, ele reuniu em sua volta várias gerações de poetas, escritores e artistas. Sua casa, no bairro do Pilarzinho, virou um local de reuniões informais e até de "peregrinações". Muita gente queria ver Leminski, desde desconhecidos a famosos como Caetano Veloso.

Leminski tinha uma grande preocupação com o conteúdo de sua obra. Por uma questão de temperamento e de busca, Leminski se aventurou na poesia de vanguarda, e alguns tipos de poesia que não têm uma raiz brasileira, como os hai-kais. Mas quando não estava na experimentando, ele fez uma poesia não formalmente metrificada. Era seu objetivo atingir o quadro sócio-político com ironia e, até um pouco de sarcasmo, sem ser panfletário.


"o pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique"


poema retirado do livro
"Caprichos e Relaxos"
de Paulo Leminski

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Vídeoclipe da música The Cask of Amontillado, do grupo The Alan Parson's Project, inspirada no conto, de mesmo nome, de Edgar Alan Poe:



Orelha do livro Lírico renitente¹:

“O leitor que não espere desatar o riso fácil; que não aguarde o afago dócil do sentido mais rasteiro; que não creia que tudo é flores na poesia. Pois este livro, o primeiro de Marcelo Sandmann, não está à espera de leitores ávidos por emoções passageiras. A não ser que, na sua instantaneidade, as emoções aflorem com a força de uma ferida aberta, de uma “exposição de vísceras”. Mas o que elas significam? Como os áugures antigos, será preciso que decifremos essas vísceras.

Poder-se-ia dizer a princípio que Marcelo Sandmann estabelece geografias; a do corpo (próprio e alheio), os seus detalhes, relevos, secreções, tiques; a da cidade, onde desponta um universo de seres muitas vezes espiritualmente aleijados (dentre os quais, algumas das personae do poeta). Do corpo, especialmente, tratam os seus primeiros poemas; dos “pezinhos amputados” de uma certa bailarina; dos desvãos do corpo da amada, com seu “cipoal de nervos tensos”; dos ombros, esses “espasmos obscenos de asa”. Daí se origina o caráter lírico dessa poesia: o descortinas da intimidade (veja-se “Axiais”), a exposição das vísceras, das feridas.

Na medida em que se entrega ao lirismo, a poesia de Marcelo Sandmann vai também abrindo um veio satírico, com todos os gumes da ironia: entre “O engenheiro embriagado”, alfinetada no poeta dito rigoroso (em si próprio, diga-se), e o “Freudista recalcitrante”, vemos desfilar uma galeria de seres e de situações risíveis, num universo à beira de uma outra Curitiba, a de Dalton Trevisan, com quem Marcelo “bebe um conhaque” nas séries “As coisas da casa” e “Daltonianas”, cujos poemas se abrem ao exercício da narrativa curta: “a raiva invadiu a casa/ numa labareda violenta. // Crestou tudo!// Agora os dois carregam baldes de água/ para dentro, / espionados pelos vizinhos...” .

Mas admitamos: a exposição da intimidade e a derrisão irônica (e, por vezes, sarcástica) não são o único interesse da poesia de Marcelo Sandmann. Nela há lugar para que o erotismo possa “rugir afoito”, como em “Tríptico do amor elíptico”, na forma de um amor que é ao mesmo tempo pânico e desejo. Sobretudo nos últimos poemas – abandonando a concisão e o estilo elíptico do início do livro, marcas de um leitor aguçado da poesia de José Paulo Paes, admitindo inclusive formas clássicas, como no excelente “Primeiro (e último) soneto bolorento” -, Marcelo Sandmann alarga os horizontes da sua poesia, dando voz (e imagem) a outros seres e paixões: a criança, a música (os músicos), e o próprio poeta que assume o canto.

Marcelo vai então manifestando paulatinamente uma dicção menos sibilina, e mais (dis)cursiva, mais cantante: “voltar a cantar o que é claro / com um verso muito claro”. Aliás, “Poética negativa” já estabelece uma cisão bastante clara entre os primeiros poemas e esses últimos: “não quero a palavra mutilada: / autópsia incisiva, / vísceras reviradas.”

Será preciso (espero) retomar algumas vezes a leitura deste Lírico renitente, deste lírico que teima em fazer poesia num mundo de pouquíssima poesia. Sem saber de antemão qual a recompensa que ele nos dá no fim das contas: as vísceras reviradas ou o embalo do acalanto.

Ao leitor, pois, as batatas; ou os poemas.

Adalberto Müller Jr.”


1 – SANDMANN, Marcelo. Lírico renitente. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.


...





Primeiro dos seis vídeos do especial para TV Acorda + Poesia, de Rogéria Holtz, em cujo conteúdo a poesia contemporânea curitibana é cantada e falada.


Neste especial, alguns trabalhos do Marcelo Sandmann e o próprio poeta marcam infatigável presença.

As seis partes do especial estão em: http://www.youtube.com/view_play_list?p=637A41C5DD94B093

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

WENCESLAU NA UFF

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

uma inspiração - fotográfica
modelo: O Poço e o Pêndulo
de E.A.POE

(nó, sem desenlace)

Luz.../escuridão!/De súbito.
Poço.../cai no chão o moço/condenado/perturbado/Morto?/Niger Orcum
de súbito/abre, comida, fecha
junto com o cheiro/ratos/roem o prato e o peito/preso.
Escuridão...
ratos, poço, balanço,/perpendicular
descendo, descendo, descendo, descen...
cinto, pele, gordura/Cinderela, ratos, Alice
caindo, comendo, morrendo,
ainda não!
ainda não!
move, parede, fechando,/Poço, buraco, caixão/Faca, corte, lâm(be)ina
caindo...cain
ainda não!/ainda não.../

domingo, 8 de novembro de 2009

A arte imita a vida ou a vida imita arte?

Apesar de começar a ser combatida na modernidade, a ideia de que a arte imita ou deve imitar a realidade é propagada desde a Antiguidade e ainda tem seus defensores nos dias de hoje.

No texto “A personagem de ficção”, de Anatol Rosenfeld, é citado o caso do livro Buddenbrooks. Neste, Thomas Mann conta uma história de ficção, que tem como pano de fundo a cidade de Lübeck, na Alemanha, “que existe na realidade”, ou melhor, que tem sua correspondente no real. O autor do livro sofreu muitas crítias pois, segundo leitores e moradores da cidade, mostrou Lübeck de um jeito irreal que “não correspondia ao que ela era na realiadade”. Conturdo, sabe-se que mesmo os aspectos que tem correspondentes no real, se estão em uma obra de ficção, são ficcionais, e só devem obedecer às regras de coesão e verossimilhança interna do texto.














Foto da cidade de Lübeck, Alemanha



Como um paralelo a isso, pode-se expor o caso do pintor francês Matisse. Em 1905, na cidade de Paris, Matisse expos seu quadro Retrato de Madame Matisse, o qual foi duramente criticado. Segundo os presentes, havia uma faixa verde brilhante na face da “mulher”. Argumentaram: “não existem mulheres verdes!”, ao que Matisse respondeu: “isso não é uma mulher, é uma pintura”.

















Retrato de Madame Matisse


É possível, como se vê, discutir e relativizar a ideia (hoje típica do senso-comum) de que a arte imita a vida. Contudo, pode-se pensar sobre o contrário também.
Atualmente, fãs de anime* e mangás*, de livros best-sellers que criam universos paralelos (como as sagas Senhor dos Aneis e Harry Potter) fazem o chamado cosplay (do inglês costume, roupa e play, jogar), onde se vestem como os personagens e tentam agir como eles, fazendo seus movimentos típicos. No caso dos fãs do Senhor dos Aneis, de J.R.R. Tolkien, alguns até mesmo falam, em certas ocasiões e encontros, usando a língua criada pelo autor para grupos de personagens (a mais falada é o Sindarin, inspirado no Galês e com 10 mil falantes**).















Cosplayer

Não se precisa nem mesmo ir muito longe: as telenovelas brasileiras (desconsiderando aqui o debate de estas serem arte), e masmedias em geral, a todo tempo lançam modas (de roupas e acessórios) e de idioletos (bordões) que, copiadas pelo público, caracterizam gerações.













Sandálias da novela Dancing Days, que viraram moda na década de 70


Assim, não se pode dizer que a arte imita a vida ou a vida imita a arte, mas pode-se acreditar em uma dialética, uma via de mão dupla em que a linha que separa a vida da arte é deveras fina – mas uma será eternamente influenciada e influenciará a outra.
*Animes e mangás são, respectivamente, desenhos animados e histórias em quadrinhos típicos japoneses
**Revista Superinteressante, ed.269, setembro de 2009 - Respostas, p.49.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Beatriz Francisca de Assis Brandão

Ou D.Beatriz, como assinava suas obras foi uma poeta, música, colunista, professora e tradutora que viveu em Minas e no Rio de Janeiro nos séculos XVIII e XIX.
Nascida em 29 de Julho de 1779, na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto), a poeta era prima de Maria Dorotéia de Seixas Brandão, a Marília de Dirceu; casou-se com o Alferes Vicente Baptista de Alvarenga e se lhe divorciou em 1839 pelo Juízo Eclesiástico, por ser vítima de maus tratos dele. A partir daí, ela se muda para o Rio de Janeiro, onde passa a publicar os poemas que sempre escrevera; contribuiu para os jornais Marmota Fluminense e Guanabara. Após publicar suas obras no Parnaso Brasileiro, ela as compila e publica um livro de poesia - Cantos da mocidade - e, em seguida, um segundo livro: Carta de Leandro a Hero, e Carta de Hero a Leandro, ambos no Parnaso Brasileiro. Ela morre em 05 de fevereiro de 1868, no Rio de Janeiro. É patrona da cadeira nº 38 da Academia Mineira de Letras. Em 2005, foi homenageada pela câmara de vereadores de Ouro Preto com uma comenda. Eis a reportagem:

http://www.cmop.mg.gov.br/projeto/index.php?option=com_content&task=view&id=1025&Itemid=2

sábado, 31 de outubro de 2009

Biografia de Vinicius de Moraes

Marcus Vinicius da Cruz e Mello Moraes, que aos nove anos de idade teve seu nome alterado para Vinicius de Moraes, nasceu no dia 19 de outubro de 1913, na Rua Lopes Quintas- Gávea, numa família de amantes das letras e da música, seguindo as duas vocações.
Aos onze anos, inicia o curso secundário no Colégio Santo Inácio, na rua São Clemente; passa a fazer parte do coro do colégio. Liga-se de grande amizade a seus colegas Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia da Fonseca Guimarães, este sobrinho de Raul Pompéia, com os quais escreve o “épico escolar”, em dez cantos de inspiração camoniana: os acadêmicos.
Por volta de seus catorze anos, conhece e torna-se amigo dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, com os quais começa a compor. Com eles, e alguns colegas do colégio, forma um pequeno conjunto musical que atua em festinhas em casas de famílias conhecidas. Aos quinze anos compõe, com os irmãos Tapajós, “Loura ou Morena” e “Canção da Noite”, que têm grande sucesso popular.
Aos dezesseis anos bacharela-se em letras pelo Santo Inácio e no ano seguinte entra para a faculdade de Direito da rua do Catete.
Aos dezoito, entra para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Aos vinte forma-se em Direito e conclui o Curso de Oficial de Reserva. Estimulado por Otávio Faria, amigo da faculdade, publica seu primeiro livro, O Caminho para a Distância, na Schimidt Editora.
Em 1935, publica Forma e exegese, com o qual ganha o prêmio Felipe d'Oliveira.
Em 1936, publica, em separata, o poema “Ariana, a uma mulher”. Substitui Prudente de Moraes Neto, como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica. Conhece Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo.
Em 1938, publica Novos Poemas e é agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Atua como assistente do programa brasileiro da BBC. No ano seguinte, casa-se por procuração com Beatriz Azevedo de Mello e retorna ao Brasil , devido à eclosão da II Guerra Mundial.
Em 1941, começa a fazer jornalismo em A Manhã, como crítico cinematográfico e a colaborar no Suplemento Literário, ao lado de Rineiro Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco, sob orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo.
Em 1943, publica Cinco Elegias, em edição mandada fazer por Manuel Bandeira, Anibal Machado e Otávio Faria. Ingressa, por concurso, na carreira diplomática.
Em 1946, parte para Los Angeles, como vice-cônsul, em seu primeiro posto diplomático. Lá permanece por cinco anos sem voltar ao Brasil. Publica, em edição de luxo, ilustrada por Carlos Leão, seu livro Poemas, sonetos e baladas.
Em 1951, retorna ao Brasil e casa-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo. Dois anos após, compõe seu primeiro samba, música e letra, “Quando tú passas por mim”.
Em 1954, sai a primeira edição de sua Antologia Poética; a revista Anhembi publica sua peça Orfeu da Conceição, premiada no concurso de teatro do IV Centenário do Estado de São Paulo.
Em 1956, colabora no quinzenário “Para Todos” a convite de seu amigo Jorge Amado, em cujo primeiro número publica o poema “O operário em construção”. Sua peça, Orfeu da Conceição, é publicada em edição comemorativa de luxo, com ilustrações de Carlos Scliar, e também encenada no Teatro Municipal. Convida Antônio Carlos Jobim para fazer a música do espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a inclusão do cantor e violinista João Gilberto, daria início ao movimento de renovação da música popular brasileira, a Bossa Nova. Retorna a Paris no fim do ano.
Em 1957, é transferido da Embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. No fim do ano, retorna ao Brasil e publica a primeira edição de seu livro Livro de Sonetos.
No ano seguinte, casa-se com Maria Lúcia Proença. Sai o LP Canção do Amor Demais, de músicas suas com Tom Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco, ouve-se, pela primeira vez, a batida da Bossa Nova, no violão de João Gilberto, que acompanha a cantora em algumas faixas, entre as quais o samba “Chega de Saudade”, considerado o marco inicial do movimento.
Em 1959, é lançado o LP Por Toda Minha Vida, de canções suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno. Publica o seu livro Novos Poemas II.
Em 1962, começa a compor com Baden Powell, dando início à série de afro-sambas, entre os quais, “Berimbau” e “Canto de Ossanha”. É publicada a primeira edição de Para Viver Um Grande Amor, pela Editora do Autor, livro de crônicas e poemas. Casa-se com Nelita Abreu Rocha.
Em 1966, é publicado seu livro de crônicas Para Uma Menina Com Uma Flor; no ano seguinte é publicada, pela Editora Sabiá, a sexta edição de sua Antologia Poética e a segunda de seu Livro de Sonetos.
Em 1968, aparece a primeira edição de sua Obra Poética; no ano seguinte, casa-se com Cristina Gurjão. Em 1970, casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy. Três anos depois, publica “A Pablo Neruda”.
Em 1976, casa-se com Marta Rodrigues Santamaria.
Em 1979, acontece a leitura de seus poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, a convite do líder Sindical Luís Inácio Lula da Silva. Voltando de uma viagem da Europa, sofre um derrame cerebral no avião. É operado em 17 de abril de 1980, para a instalação de um dreno cerebral.
Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

As sem-razões do amor

(Drummond)

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabe sê-lo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
É semeado no vento, na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.

Eu te amo porque te amo
Bastante ou igual a mim.
Porque amor não se troca.
Nem se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.

Soneto de Maior Amor

Vinícius de Moraes

Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.

E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.

Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo

Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo

Amor

Oswald de Andrade

Humor.

"Soneto do Amor”

Luiz Vaz de Camões

Amor é um fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos a amizade,
Se tão contrario a si é o mesmo amor?

Soneto da Fidelidade

(Vinícius de Moraes)

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja eterno enquanto dure.

(Vinícius de Moraes)

CURTAS FRANCESES NO CINE MACUNAÍMA

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A arte de falar da arte

Em seu diálogo A República, Platão descreve como seria sua cidade ideal, baseada na racionalidade, objetivando um “bem comum” e tendo uma organização fundamentada em necessidades e trocas.

Numa ordem lógica, todas as pessoas dessa cidade perfeita tinham utilidade para ela e para seus moradores - sejam artesãos, soldados, alfaiates, pedreiros, políticos ou carpinteiros, todos tinham o seu papel e contribuíam para o bem-estar geral.

Quando as necessidades básicas (alimentação, moradia, vestuário) já estavam sendo satisfeitas, começava, porém, a surgir desejos desnecessários: e junto com eles surgiam os artistas, músicos, dançarinos, poetas - que não desempenhavam nenhuma função útil para a cidade, segundo o filósofo.

Esse desprezo de Platão pela arte é baseado na tese de que a arte é sempre imitação (mimesis). Tudo que o artista conseguirá fazer é uma reprodução (que será sempre inferior ao real) – um vestido pintado em um quadro não servirá para ser usado, logo, será inferior a um vestido feito por um alfaiate (mais uma vez em voga, o pragmatismo de Platão). Na visão platônica, o alfaiate tem como modelo de seu trabalho a ideia e o artista tem como modelo de sua pintura a aparência.

Já Aristóteles, na sua Poética, não deseja expulsar os artistas da cidade. O discípulo de Platão continua a crer no conceito de mimesis para a arte, mas ao invés do termo ganhar uma conotação negativa, Aristóteles prega que a imitação faz parte da natureza do homem.

Para ele, a mimesis cria: é copiar coisas já existentes, mas também coisas que são possíveis, mas ainda não são reais. O homem, portanto, pode inventar a realidade como deseja ou como precisa, para assim propagá-la: na tragédia, a arte apresenta seus modelos de forma mais heróica e virtuosa do que o real, e, na comédia, de forma mais ignorante e feia do que o normal. Ao contrário do que pensava Platão, portanto, Aristóteles pensa que a arte não objetiva imitar a forma idêntica do real, mas imitar com uma abordagem própria, ou seja, quando se imita, se está, por conseqüência, criando.

Helio Oiticica

Quem foi o neoconcretista, Hélio Oiticica?
Foi um o importante artista plástico, que também era pintor e escultor. Oiticica é considerado um importante artista do cenário nacional, de renome internacional, possui obras expostas no exterior, em coleções particulares e nos muses espalhadas pelo país.
Nascido no Rio de janeiro, neto um anarquista , filho de um cientista , foi em 1947 que Hélio foi matriculado pela primeira vez em uma escola, na capital de Washington, até então era ensinado em casa pelos pais.Depois de o pai, José Oiticica Neto, ganhar uma bolsa da Fundação Guggenheim e a família mudar para os EUA.
Foi nos anos 50 , que participou do movimento neoconcretistas nascido no Rio, em que procuravam conceitos novos dizendo que a arte não era um mero objeto, tinha sensibilidade, expressividade, subjetividade, indo muito além do mero geometrismo puro. Os neoconcretistas eram contra as atitudes cientificistas e positivistas na arte. A recuperação das possibilidades criadoras do artista ,não mais considerado um inventor de protótipos industriais, e a incorporação efetiva do observador -(que ao criar e produzir tornava parate dela) que se apresentavam como tentativas de eliminar a tendência técnico-científica presente no concretismo.

O movimento neoconcreto nunca conseguiu tomar conta de todo o país, ficou centrado basicamente só no Estado do Rio de Janeiro, sendo largamente criticado pelos concretistas ortodoxos paulistas, partidários da autonomia da forma em detrimento da expressão e implicações simbólicas ou sentimentais. Hélio depois de frenquentar a quadra da Estação Primeira da Mangueira, teve inspiração e começou a criar váriar obras nas quais receberam nomes" exóticos" como:

Bólides eram caixas de madeira, plástico ou vidro. Dedicou uma delas a Cara de Cavalo, assaltante morto pela polícia - dentro havia fotos do amigo caído numa poça de sangue. "O crime é a busca desesperada da felicidade autêntica, em contraposição aos falsos valores sociais", escreveu.
Parangolés. Trata-se de tendas, estandartes, bandeiras e capas de vestir que fundem elementos como cor, dança, poesia e música e pressupõem uma manifestação cultural coletiva.
Penetráveis, placas de madeira pintadas com cores quentes penduradas no tete por fios de nylon.
No dia 14 de março de 1980, sofreu um derrame e estava sozinho no apartamento, imobilizado e sem voz, mas lúcido, ouvia a campainha tocar e via os amigos passarem bilhetinhos embaixo da porta. A agonia durou quatro dias, até uma amiga pedir licença ao vizinho e entrar pela janela. Morreu a 22 de março.

O movimento Neoconcretista foi fundado por nomes como Ferreira Gullar e Ligia Clarck.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Uma pequena prévia da autora:

Soneto-Beatriz Francisca de Assis Brandão

Meu coração palpita acelerado,
Exulta de prazer, de amor delira,
Novo alento meu peito já respira,
É mil vezes feliz o meu cuidado.

O meu Tirce de mim vive lembrado,
Saudoso, como eu, por mim suspira;
Que seleto prazer a esta alma inspira
A amorosa expressão do bem amado!

Doce prenda dos meus ternos amores,
Amada, suavíssima escritura,
Que em meu peito desterras vãos temores;

Em ígneos caracteres na alma pura
Grava, Amor, com os farpões abrasadores
Estes doces penhores da ternura.

Edgar Allan Poe (Biografia)


Edgar Allan Poe nasceu em 19 de Janeiro de 1809, no nr. 33 da rua Hollis, em Boston, onde a sua mãe e seu pai, Davi Poe, trabalhavam como atores. Elizabeth Arnold Poe morreu em Richmond (E.U.A.) em dezembro de 1811 e Edgar foi entregue à família de John Allan, membro da firma Ellis e Allan, que comercializava tabaco.
Depois de freqüentar escolas na Inglaterra e Richmond, o jovem Poe registrou-se na Universidade de Virgínia, no dia 14 de Fevereiro de 1826. Ele vivia no Quarto 13, em West Range. Foi um membro ativo da "Jefferson Literary Society", e passou no final do semestre com médias boas nas matérias que cursou. Entretanto o Sr. Allan não lhe deu dinheiro suficiente para suas despesas, e Poe fez dívidas, coisa que o seu "pai" não aprovou. Quando o Sr. Allan se recusou a deixá-lo voltar para a Universidade, houve uma briga, e Poe saiu de casa sem dinheiro. É provável que o Sr. Allan tenha mandado dinheiro para Edgar mais tarde, e ele então foi para Boston. Lá, Poe publicou um pequeno volume, de poesias, entitulado "Tamerlane And Other Poems". Este livro é tão raro que uma única cópia já foi vendida por $200.000,00.
Ainda em Boston, em 26 de Maio de 1827, Poe se alistou no Exército dos Estados Unidos, como um soldado chamado Edgar A. Perry. Depois de dois anos de serviço militar, em que foi promovido a sargento, ele obteve, com o auxílio do Sr. Allan, a dispensa do Exército e voltou para Baltimore. Lá ele viveu com sua tia, a senhora Maria Poe Clemm, com as pequenas quantias de dinheiro que eram enviadas pelo seu pai, até o momento que ele conseguiu um cargo na Academia Militar americana de West Point.

Neste meio tempo, Poe publicou seu segundo livro de poesia, em 1829: "Al Araaf, Tarmelane and Minor Poems". Depois de uma nova rixa com o Sr. Allan (que havia se casado pela segunda vez em 1830), Poe não recebeu mais ajuda de seu pai adotivo. Em virtude da sua, supostamente propositada, desobediência a ordens, ele acabou por ser expulso desta academia, em 6 de março de 1831, fato pelo qual o Sr. Allan o repudiou até a sua morte, em 1834.

Logo que Poe saiu de West Point, um novo volume apareceu: "Poems by Edgar Allan Poe, Second Edition". Enquanto vivia com a sua tia em Baltimore, a Sra. Clemm, o jovem Edgar começou a escrever estórias em prosa. Cinco delas aparecem no "Philadelphia Saturday Courier", em 1932.

Com a edição de Dezembro de 1835 iniciou o seu trabalho como editor do jornal " Southern Literary Messenger" de Thomas W. White, em Richmond; ele permaneceu neste cargo até Janeiro de 1837. Durante este período ele casa com a sua prima mais nova, Virgínia Clemm, em Richmond, no dia 16 de Maio de 1836.

As críticas ácidas e os sensacionais contos de Poe fizeram com que ficasse muito conhecido como autor; entretanto, ele não conseguiu encontrar uma editora para um volume de contos burlescos (sátiras): "Tales of The Folio Club". No entanto, Harpers publicou o seu conto, " Arthur Gordon Pym" em Julho de 1838.

Pouco se sabe da vida de Poe depois que ele deixou o Messenger, porém em 1838 ele foi para a Philadelphia, onde viveu por seis anos. Ele foi editor do " Burton's Gentleman's Magazine" de Julho de 1839 até Junho de 1840, e do "Graham's Magazine" de Abril, 1841, até Maio de 1842. Em Abril de 1844, sem dinheiro para sustentar a família, Poe vai para Nova York, onde encontra trabalho no " New York Evening Mirror".

Em 1840 o " Tales of the Grotesque and Arabesque" (Contos do Grotesco e do Arabesco) de Poe é publicado em dois volumes na Philadelphia. Em 1845, fica famoso com o espetacular poema "The Raven" (O Corvo), e em Março desse ano, junta-se a C. F. Briggs em uma tentativa para publicar o "The Broadway Journal" . Também em 1845, Wiley and Putnam publicaram uma tiragem do " Tales by Edgar A. Poe" e "The Raven and Other Poems".

O ano de 1846 foi trágico. Poe colocou para alugar a pequena casa em Fordham, onde viveu os últimos três anos de sua vida. O " The Broadway Journal" faliu, e Virgínia ficou muito doente, vindo a falecer em 30 de Janeiro de 1847. Após a morte de sua esposa, Poe talvez se entregou com mais freqüência a uma fraqueza com bebida, que o atacava em intervalos, desde o início da sua vida adulta. Ele não conseguia tomar nem um pequena quantidade de álcool sem com isso afetar a sua personalidade, e todo o excesso era acompanhado de prostração física. Por toda a sua vida essas "indisposições" (causadas pela bebida) interferiram no seu sucesso como editor, e causaram a ele uma reputação de imoderado que na maior parte das vezes não merecia.

Nos seus últimos anos Poe havia se interessado por várias mulheres. Entre elas incluem-se as poetisas Sarah Helen Whitman, a senhora Charles Richmond e a viúva Sarah Elmira Shelton, que ele conhecia de sua infância como Senhorita Royster.

As circunstâncias da morte de Poe permanecem um mistério. Depois de uma visita a Norfolk e Richmond para dar aulas, ele foi encontrado em Baltimore numa sórdida taberna, pelo Dr. James E. Snodgrass, velho amigo, no dia 3 de Outubro, com roupas que não eram suas e numa condição deplorável. Se encontrava em estado de "delirium tremens" e foi levado ainda inconsciente ao hospital " Washington College Hospital", onde foi atendido pelo médico residente Dr. J.J. Moran, e onde morreu quatro dias depois, no domingo, 7 de Outubro de 1849. Foi enterrado no pátio da igreja Westminster Presbyterian Church, em Baltimore, Maryland.

Poe nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente coerente, de modo a explicar como tinha chegado à situação na qual foi encontrado. As suas últimas palavras teriam sido, de acordo com determinadas fontes, «It's all over now: write Eddy is no more », em português, «Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe ». Outras fontes dizem ter sido as últimas palavras: " Lord help my poor soul", em português, "Deus, ajude a minha pobre alma". É dito também que chamava constantemente por um tal "Reynolds", revelando indícios de extremo desespero, um dia antes de morrer.

Nunca foram apuradas as causas precisas da morte de Poe, sendo bastante comum, apesar de incomprovada, a idéia de que a causa do seu estado ter sido embriaguez. Por outro lado, muitas outras teorias têm sido propostas ao longo dos anos, entre as quais: diabetes, sífilis, raiva, e doenças cerebrais raras. Uma das teorias mais comuns é a de que Poe foi vítima de "cooping" (sugerido em 1872), que era uma prática em que pessoas eram forçadas a votar (Poe foi encontrado em um dia de eleição em Baltimore), várias vezes seguidas em um candidato. Para isso as pessoas eram drogadas e embriagadas. Porém, o mistério continua.

Pessoalmente, Poe foi um homem tímido, quieto, porém bonito. Era magro, de altura mediana. Dizia-se que tinha uma boca bonita.





* Mais informações sobre Poe:


http://www.poebrasil.com.br/

http://www.poemuseum.org/ (inglês)

http://www.eapoe.org/ (inglês)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Ópera Medéia no Rio - Estudantes R$ 2,00

Neste domingo haverá uma exibição da ópera Medéia, no Centro Cultural dos correios, dentro do programa ópera na tela. Imperdível para esta turma, que leu Medéia.
Maiores informações
http://operanatela.com/filmes.php?id=32

Há outras óperas excelentes sendo projetadas. A projeção e o som sao muito bons, uma rara oportunidade de ver óperas.

Adalberto

Eucanaã Ferraz






Nasceu no Rio de Janeiro, em 18 de maio de 1961. Escreveu, entre outros, os livros de poemas Cinemateca (Companhia das Letras, 2008),Rua do mundo (Companhia das Letras, 2004), publicado em Portugal (Quasi, 2006), Desassombro (7 Letras, 2002, prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional), publicado em Portugal (Quasi, 2001) e Martelo (Sette Letras, 1997).

Organizou os livros Letra só, com letras de Caetano Veloso (Companhia das Letras, 2003), publicado em Portugal (Quasi, 2002); Poesia completa e prosa de Vinicius de Moraes (Nova Aguilar, 2004), a antologiaVeneno antimonotonia — Os melhores poemas e canções contra o tédio (Objetiva, 2005) e O mundo não é chato, com textos em prosa de Caetano Veloso (Companhia das Letras, 2005). Publicou ainda, na coleção Folha Explica, o volume Vinicius de Moraes(Publifolha, 2006).

Edita, com André Vallias, a revista on line Errática (www.erratica.com.br). É professor de literatura brasileira na faculdade de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.(www.eucanaaferraz.com.br)




Graça


Não saberia dizer a hora
em que me desfizera de tudo o que não era teu,
quando cada coisa se deixou cobrir
por tua presença sem margens

e deixou de haver um lado
que fosse fora de ti.



Eucanaã Ferraz, Rua do mundo (Companhia das Letras, 2004)