Bom, vamos aos fatos: a literatura contemporânea que temos é essa aí. Ponto. Boa ou ruim, ela existe. Está nas livrarias e bibliotecas e, aceitando ou não, são livros já publicados. Outro ponto: ainda não é possível analisarmos tais obras com grande isenção, por causa de uma série de fatores. Às vezes somos benevolentes, outras vezes beligerantes. Então, com o passar do tempo – e o marketing se preocupando menos com a obra – as qualidades que vimos serão ou confirmadas ou descartadas. Outras vezes os erros que apontamos passam a ficar cada vez menores e na balança, a obra acaba sendo melhor avaliada. Com isso em mente, acho que tanto os que afirmam que não vale a pena, como os que afirmam que vale a pena, têm razões válidas.
Os que afirmam que não vale a pena a leitura de literatura contemporânea têm um ótimo motivo para isso: de tempos em tempos, um autor (que ninguém sabe bem o porquê) é eleito pela mídia como favorito e passa a carregar o rótulo de ‘modelo a ser seguido’. Daí, vários outros autores menores se espelham nele (que é a unanimidade) e começam a escrever segundo aquele modelo. Poucos inovam, muitos pioram o que já era duvidoso. Como todos estão sendo influenciados a apreciar certo estilo, aquele autor menor acaba vendendo bem, incentivando outros menores ainda a seguirem a mesma trilha. Portanto, todos que estão acostumados a tentar separar o joio do trigo já sabe o resultado disso. Os anos noventa ainda estimularam essa atitude por causa de alguns agravantes. O resultado geral costuma ser tão ruim, que é melhor esperar algum tempo para melhor perceber quem realmente prevalecerá como sinônimo de qualidade.
Os que afirmam que vale a pena (e me incluo entre esses) a leitura, reconhecem que sempre existe aquele desejo insaciável de descobrir um bom livro, um livro surpreendente, que faça valer nosso tempo. E descobrir bons livros é uma sensação muito boa. Como não gosto de perder tempo com livros ruins – aliás prefiro ser visto como preconceituoso a ler um livro ruim somente para ter o direito de criticá-lo – valorizo bastante um bom livro e os ruins que eventualmente caem em minha mão, procuro descobrir o quê exatamente falta. O exercício serve de estímulo para aprimorar a capacidade de apreciação de uma boa obra. Por mais seletivos que sejamos, se lemos com regularidade, eventualmente apanhamos um livro ruim. No caso da literatura contemporânea, a possibilidade aumenta, conforme mostra o parágrafo anterior.
Portanto, acredito que é salutar um certo equilíbrio. Não vejo com bons olhos a afirmativa de que é preciso ler tudo o que é publicado para que se possa descobrir o que é realmente bom. Mas também não acho que o leitor deve simplesmente se isentar da literatura contemporânea pelo simples fato de que é bastante difícil ler algo bom hoje em dia. Por exemplo, da lista citada no primeiro post, já escrevi sobre “Nove Noites” de Bernardo Carvalho, que é excelente. Claro que é impossível não notar que falta algo na literatura atual. Mas ao mesmo tempo, seria uma injustiça não procurar destacar a qualidade de alguns escritores contemporâneos.