Numa ordem lógica, todas as pessoas dessa cidade perfeita tinham utilidade para ela e para seus moradores - sejam artesãos, soldados, alfaiates, pedreiros, políticos ou carpinteiros, todos tinham o seu papel e contribuíam para o bem-estar geral.
Quando as necessidades básicas (alimentação, moradia, vestuário) já estavam sendo satisfeitas, começava, porém, a surgir desejos desnecessários: e junto com eles surgiam os artistas, músicos, dançarinos, poetas - que não desempenhavam nenhuma função útil para a cidade, segundo o filósofo.
Esse desprezo de Platão pela arte é baseado na tese de que a arte é sempre imitação (mimesis). Tudo que o artista conseguirá fazer é uma reprodução (que será sempre inferior ao real) – um vestido pintado em um quadro não servirá para ser usado, logo, será inferior a um vestido feito por um alfaiate (mais uma vez em voga, o pragmatismo de Platão). Na visão platônica, o alfaiate tem como modelo de seu trabalho a ideia e o artista tem como modelo de sua pintura a aparência.
Já Aristóteles, na sua Poética, não deseja expulsar os artistas da cidade. O discípulo de Platão continua a crer no conceito de mimesis para a arte, mas ao invés do termo ganhar uma conotação negativa, Aristóteles prega que a imitação faz parte da natureza do homem.
Para ele, a mimesis cria: é copiar coisas já existentes, mas também coisas que são possíveis, mas ainda não são reais. O homem, portanto, pode inventar a realidade como deseja ou como precisa, para assim propagá-la: na tragédia, a arte apresenta seus modelos de forma mais heróica e virtuosa do que o real, e, na comédia, de forma mais ignorante e feia do que o normal. Ao contrário do que pensava Platão, portanto, Aristóteles pensa que a arte não objetiva imitar a forma idêntica do real, mas imitar com uma abordagem própria, ou seja, quando se imita, se está, por conseqüência, criando.
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