sábado, 12 de dezembro de 2009





Adalberto Muller nasceu na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Ponta Porã. Do outro lado se chamava Pedro Juan Caballero. Filho de um teuto-brasileiro com uma paraguaia, cresci ouvindo 4 idiomas: português, espanhol, guarani e alemão. Da rua onde eu morava (Avenida Internacional), era possível ver o outro lado, o Paraguai, pois a fronteira é seca, ela pode ser cruzada a qualquer hora, a pé ou de carro, sem controles de passaporte. Mas só quem nasceu lá sabe onde se pode e onde não se deve cruzar a fronteira. Quando pequeno, me disseram que a separação entre os dois países era uma tal “linha imaginária”. Nunca consegui ver a linha, só os dois marcos de concreto (um em cada extremo das cidades). Aos poucos descrobri que havia vários tipos de fronteira. Inclusive internas (...)
Minha experiência de fronteira está registrada de maneira sintética num poema que publiquei no livro Enquanto velo teu sono (7Letras, 2003), e creio que ele define o tom do documentário de poesia:


Épura
Já não estou mais
onde nasci
nasci onde
nunca estive
hoje vivo
na fronteira dos ventos
na linha imaginária
que sobrou entre os marcos
Invisíveis de um mundo
que se move

Adalberto Müller, Enquanto velo teu sono, 2003.

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