domingo, 8 de novembro de 2009

A arte imita a vida ou a vida imita arte?

Apesar de começar a ser combatida na modernidade, a ideia de que a arte imita ou deve imitar a realidade é propagada desde a Antiguidade e ainda tem seus defensores nos dias de hoje.

No texto “A personagem de ficção”, de Anatol Rosenfeld, é citado o caso do livro Buddenbrooks. Neste, Thomas Mann conta uma história de ficção, que tem como pano de fundo a cidade de Lübeck, na Alemanha, “que existe na realidade”, ou melhor, que tem sua correspondente no real. O autor do livro sofreu muitas crítias pois, segundo leitores e moradores da cidade, mostrou Lübeck de um jeito irreal que “não correspondia ao que ela era na realiadade”. Conturdo, sabe-se que mesmo os aspectos que tem correspondentes no real, se estão em uma obra de ficção, são ficcionais, e só devem obedecer às regras de coesão e verossimilhança interna do texto.














Foto da cidade de Lübeck, Alemanha



Como um paralelo a isso, pode-se expor o caso do pintor francês Matisse. Em 1905, na cidade de Paris, Matisse expos seu quadro Retrato de Madame Matisse, o qual foi duramente criticado. Segundo os presentes, havia uma faixa verde brilhante na face da “mulher”. Argumentaram: “não existem mulheres verdes!”, ao que Matisse respondeu: “isso não é uma mulher, é uma pintura”.

















Retrato de Madame Matisse


É possível, como se vê, discutir e relativizar a ideia (hoje típica do senso-comum) de que a arte imita a vida. Contudo, pode-se pensar sobre o contrário também.
Atualmente, fãs de anime* e mangás*, de livros best-sellers que criam universos paralelos (como as sagas Senhor dos Aneis e Harry Potter) fazem o chamado cosplay (do inglês costume, roupa e play, jogar), onde se vestem como os personagens e tentam agir como eles, fazendo seus movimentos típicos. No caso dos fãs do Senhor dos Aneis, de J.R.R. Tolkien, alguns até mesmo falam, em certas ocasiões e encontros, usando a língua criada pelo autor para grupos de personagens (a mais falada é o Sindarin, inspirado no Galês e com 10 mil falantes**).















Cosplayer

Não se precisa nem mesmo ir muito longe: as telenovelas brasileiras (desconsiderando aqui o debate de estas serem arte), e masmedias em geral, a todo tempo lançam modas (de roupas e acessórios) e de idioletos (bordões) que, copiadas pelo público, caracterizam gerações.













Sandálias da novela Dancing Days, que viraram moda na década de 70


Assim, não se pode dizer que a arte imita a vida ou a vida imita a arte, mas pode-se acreditar em uma dialética, uma via de mão dupla em que a linha que separa a vida da arte é deveras fina – mas uma será eternamente influenciada e influenciará a outra.
*Animes e mangás são, respectivamente, desenhos animados e histórias em quadrinhos típicos japoneses
**Revista Superinteressante, ed.269, setembro de 2009 - Respostas, p.49.

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