sábado, 31 de outubro de 2009
Biografia de Vinicius de Moraes
Aos onze anos, inicia o curso secundário no Colégio Santo Inácio, na rua São Clemente; passa a fazer parte do coro do colégio. Liga-se de grande amizade a seus colegas Moacyr Veloso Cardoso de Oliveira e Renato Pompéia da Fonseca Guimarães, este sobrinho de Raul Pompéia, com os quais escreve o “épico escolar”, em dez cantos de inspiração camoniana: os acadêmicos.
Por volta de seus catorze anos, conhece e torna-se amigo dos irmãos Paulo e Haroldo Tapajós, com os quais começa a compor. Com eles, e alguns colegas do colégio, forma um pequeno conjunto musical que atua em festinhas em casas de famílias conhecidas. Aos quinze anos compõe, com os irmãos Tapajós, “Loura ou Morena” e “Canção da Noite”, que têm grande sucesso popular.
Aos dezesseis anos bacharela-se em letras pelo Santo Inácio e no ano seguinte entra para a faculdade de Direito da rua do Catete.
Aos dezoito, entra para o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva (CPOR). Aos vinte forma-se em Direito e conclui o Curso de Oficial de Reserva. Estimulado por Otávio Faria, amigo da faculdade, publica seu primeiro livro, O Caminho para a Distância, na Schimidt Editora.
Em 1935, publica Forma e exegese, com o qual ganha o prêmio Felipe d'Oliveira.
Em 1936, publica, em separata, o poema “Ariana, a uma mulher”. Substitui Prudente de Moraes Neto, como representante do Ministério da Educação junto à Censura Cinematográfica. Conhece Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, dos quais se torna amigo.
Em 1938, publica Novos Poemas e é agraciado com a primeira bolsa do Conselho Britânico para estudar língua e literatura inglesas na Universidade de Oxford. Atua como assistente do programa brasileiro da BBC. No ano seguinte, casa-se por procuração com Beatriz Azevedo de Mello e retorna ao Brasil , devido à eclosão da II Guerra Mundial.
Em 1941, começa a fazer jornalismo em A Manhã, como crítico cinematográfico e a colaborar no Suplemento Literário, ao lado de Rineiro Couto, Manuel Bandeira, Cecília Meireles e Afonso Arinos de Melo Franco, sob orientação de Múcio Leão e Cassiano Ricardo.
Em 1943, publica Cinco Elegias, em edição mandada fazer por Manuel Bandeira, Anibal Machado e Otávio Faria. Ingressa, por concurso, na carreira diplomática.
Em 1946, parte para Los Angeles, como vice-cônsul, em seu primeiro posto diplomático. Lá permanece por cinco anos sem voltar ao Brasil. Publica, em edição de luxo, ilustrada por Carlos Leão, seu livro Poemas, sonetos e baladas.
Em 1951, retorna ao Brasil e casa-se pela segunda vez com Lila Maria Esquerdo. Dois anos após, compõe seu primeiro samba, música e letra, “Quando tú passas por mim”.
Em 1954, sai a primeira edição de sua Antologia Poética; a revista Anhembi publica sua peça Orfeu da Conceição, premiada no concurso de teatro do IV Centenário do Estado de São Paulo.
Em 1956, colabora no quinzenário “Para Todos” a convite de seu amigo Jorge Amado, em cujo primeiro número publica o poema “O operário em construção”. Sua peça, Orfeu da Conceição, é publicada em edição comemorativa de luxo, com ilustrações de Carlos Scliar, e também encenada no Teatro Municipal. Convida Antônio Carlos Jobim para fazer a música do espetáculo, iniciando com ele a parceria que, logo depois, com a inclusão do cantor e violinista João Gilberto, daria início ao movimento de renovação da música popular brasileira, a Bossa Nova. Retorna a Paris no fim do ano.
Em 1957, é transferido da Embaixada em Paris para a Delegação do Brasil junto à UNESCO. No fim do ano, retorna ao Brasil e publica a primeira edição de seu livro Livro de Sonetos.
No ano seguinte, casa-se com Maria Lúcia Proença. Sai o LP Canção do Amor Demais, de músicas suas com Tom Jobim, cantadas por Elizete Cardoso. No disco, ouve-se, pela primeira vez, a batida da Bossa Nova, no violão de João Gilberto, que acompanha a cantora em algumas faixas, entre as quais o samba “Chega de Saudade”, considerado o marco inicial do movimento.
Em 1959, é lançado o LP Por Toda Minha Vida, de canções suas com Jobim, pela cantora Lenita Bruno. Publica o seu livro Novos Poemas II.
Em 1962, começa a compor com Baden Powell, dando início à série de afro-sambas, entre os quais, “Berimbau” e “Canto de Ossanha”. É publicada a primeira edição de Para Viver Um Grande Amor, pela Editora do Autor, livro de crônicas e poemas. Casa-se com Nelita Abreu Rocha.
Em 1966, é publicado seu livro de crônicas Para Uma Menina Com Uma Flor; no ano seguinte é publicada, pela Editora Sabiá, a sexta edição de sua Antologia Poética e a segunda de seu Livro de Sonetos.
Em 1968, aparece a primeira edição de sua Obra Poética; no ano seguinte, casa-se com Cristina Gurjão. Em 1970, casa-se com a atriz baiana Gesse Gessy. Três anos depois, publica “A Pablo Neruda”.
Em 1976, casa-se com Marta Rodrigues Santamaria.
Em 1979, acontece a leitura de seus poemas no Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, a convite do líder Sindical Luís Inácio Lula da Silva. Voltando de uma viagem da Europa, sofre um derrame cerebral no avião. É operado em 17 de abril de 1980, para a instalação de um dreno cerebral.
Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.
sexta-feira, 30 de outubro de 2009
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
E nem sempre sabe sê-lo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
É semeado no vento, na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
E a regulamentos vários.
Eu te amo porque te amo
Bastante ou igual a mim.
Porque amor não se troca.
Nem se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
Feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
E da morte vencedor,
Por mais que o matem (e matam)
A cada instante de amor.
Soneto de Maior Amor
Maior amor nem mais estranho existe
Que o meu, que não sossega a coisa amada
E quando a sente alegre, fica triste
E se a vê descontente, dá risada.
E que só fica em paz se lhe resiste
O amado coração, e que se agrada
Mais da eterna aventura em que persiste
Que de uma vida mal aventurada.
Louco amor meu, que quando toca, fere
E quando fere vibra, mas prefere
Ferir a fenecer - e vive a esmo
Fiel à sua lei de cada instante
Desassombrado, doido, delirante
Numa paixão de tudo e de si mesmo
"Soneto do Amor”
Amor é um fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos a amizade,
Se tão contrario a si é o mesmo amor?
Soneto da Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja eterno enquanto dure.
(Vinícius de Moraes)
quinta-feira, 29 de outubro de 2009
A arte de falar da arte
Numa ordem lógica, todas as pessoas dessa cidade perfeita tinham utilidade para ela e para seus moradores - sejam artesãos, soldados, alfaiates, pedreiros, políticos ou carpinteiros, todos tinham o seu papel e contribuíam para o bem-estar geral.
Quando as necessidades básicas (alimentação, moradia, vestuário) já estavam sendo satisfeitas, começava, porém, a surgir desejos desnecessários: e junto com eles surgiam os artistas, músicos, dançarinos, poetas - que não desempenhavam nenhuma função útil para a cidade, segundo o filósofo.
Esse desprezo de Platão pela arte é baseado na tese de que a arte é sempre imitação (mimesis). Tudo que o artista conseguirá fazer é uma reprodução (que será sempre inferior ao real) – um vestido pintado em um quadro não servirá para ser usado, logo, será inferior a um vestido feito por um alfaiate (mais uma vez em voga, o pragmatismo de Platão). Na visão platônica, o alfaiate tem como modelo de seu trabalho a ideia e o artista tem como modelo de sua pintura a aparência.
Já Aristóteles, na sua Poética, não deseja expulsar os artistas da cidade. O discípulo de Platão continua a crer no conceito de mimesis para a arte, mas ao invés do termo ganhar uma conotação negativa, Aristóteles prega que a imitação faz parte da natureza do homem.
Para ele, a mimesis cria: é copiar coisas já existentes, mas também coisas que são possíveis, mas ainda não são reais. O homem, portanto, pode inventar a realidade como deseja ou como precisa, para assim propagá-la: na tragédia, a arte apresenta seus modelos de forma mais heróica e virtuosa do que o real, e, na comédia, de forma mais ignorante e feia do que o normal. Ao contrário do que pensava Platão, portanto, Aristóteles pensa que a arte não objetiva imitar a forma idêntica do real, mas imitar com uma abordagem própria, ou seja, quando se imita, se está, por conseqüência, criando.
Helio Oiticica
O movimento neoconcreto nunca conseguiu tomar conta de todo o país, ficou centrado basicamente só no Estado do Rio de Janeiro, sendo largamente criticado pelos concretistas ortodoxos paulistas, partidários da autonomia da forma em detrimento da expressão e implicações simbólicas ou sentimentais. Hélio depois de frenquentar a quadra da Estação Primeira da Mangueira, teve inspiração e começou a criar váriar obras nas quais receberam nomes" exóticos" como:
quarta-feira, 28 de outubro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
Soneto-Beatriz Francisca de Assis Brandão
Meu coração palpita acelerado,
Exulta de prazer, de amor delira,
Novo alento meu peito já respira,
É mil vezes feliz o meu cuidado.
O meu Tirce de mim vive lembrado,
Saudoso, como eu, por mim suspira;
Que seleto prazer a esta alma inspira
A amorosa expressão do bem amado!
Doce prenda dos meus ternos amores,
Amada, suavíssima escritura,
Que em meu peito desterras vãos temores;
Em ígneos caracteres na alma pura
Grava, Amor, com os farpões abrasadores
Estes doces penhores da ternura.
Edgar Allan Poe (Biografia)
Depois de freqüentar escolas na Inglaterra e Richmond, o jovem Poe registrou-se na Universidade de Virgínia, no dia 14 de Fevereiro de 1826. Ele vivia no Quarto 13, em West Range. Foi um membro ativo da "Jefferson Literary Society", e passou no final do semestre com médias boas nas matérias que cursou. Entretanto o Sr. Allan não lhe deu dinheiro suficiente para suas despesas, e Poe fez dívidas, coisa que o seu "pai" não aprovou. Quando o Sr. Allan se recusou a deixá-lo voltar para a Universidade, houve uma briga, e Poe saiu de casa sem dinheiro. É provável que o Sr. Allan tenha mandado dinheiro para Edgar mais tarde, e ele então foi para Boston. Lá, Poe publicou um pequeno volume, de poesias, entitulado "Tamerlane And Other Poems". Este livro é tão raro que uma única cópia já foi vendida por $200.000,00.
Ainda em Boston, em 26 de Maio de 1827, Poe se alistou no Exército dos Estados Unidos, como um soldado chamado Edgar A. Perry. Depois de dois anos de serviço militar, em que foi promovido a sargento, ele obteve, com o auxílio do Sr. Allan, a dispensa do Exército e voltou para Baltimore. Lá ele viveu com sua tia, a senhora Maria Poe Clemm, com as pequenas quantias de dinheiro que eram enviadas pelo seu pai, até o momento que ele conseguiu um cargo na Academia Militar americana de West Point.
Neste meio tempo, Poe publicou seu segundo livro de poesia, em 1829: "Al Araaf, Tarmelane and Minor Poems". Depois de uma nova rixa com o Sr. Allan (que havia se casado pela segunda vez em 1830), Poe não recebeu mais ajuda de seu pai adotivo. Em virtude da sua, supostamente propositada, desobediência a ordens, ele acabou por ser expulso desta academia, em 6 de março de 1831, fato pelo qual o Sr. Allan o repudiou até a sua morte, em 1834.
Logo que Poe saiu de West Point, um novo volume apareceu: "Poems by Edgar Allan Poe, Second Edition". Enquanto vivia com a sua tia em Baltimore, a Sra. Clemm, o jovem Edgar começou a escrever estórias em prosa. Cinco delas aparecem no "Philadelphia Saturday Courier", em 1932.
Com a edição de Dezembro de 1835 iniciou o seu trabalho como editor do jornal " Southern Literary Messenger" de Thomas W. White, em Richmond; ele permaneceu neste cargo até Janeiro de 1837. Durante este período ele casa com a sua prima mais nova, Virgínia Clemm, em Richmond, no dia 16 de Maio de 1836.
As críticas ácidas e os sensacionais contos de Poe fizeram com que ficasse muito conhecido como autor; entretanto, ele não conseguiu encontrar uma editora para um volume de contos burlescos (sátiras): "Tales of The Folio Club". No entanto, Harpers publicou o seu conto, " Arthur Gordon Pym" em Julho de 1838.
Pouco se sabe da vida de Poe depois que ele deixou o Messenger, porém em 1838 ele foi para a Philadelphia, onde viveu por seis anos. Ele foi editor do " Burton's Gentleman's Magazine" de Julho de 1839 até Junho de 1840, e do "Graham's Magazine" de Abril, 1841, até Maio de 1842. Em Abril de 1844, sem dinheiro para sustentar a família, Poe vai para Nova York, onde encontra trabalho no " New York Evening Mirror".
Em 1840 o " Tales of the Grotesque and Arabesque" (Contos do Grotesco e do Arabesco) de Poe é publicado em dois volumes na Philadelphia. Em 1845, fica famoso com o espetacular poema "The Raven" (O Corvo), e em Março desse ano, junta-se a C. F. Briggs em uma tentativa para publicar o "The Broadway Journal" . Também em 1845, Wiley and Putnam publicaram uma tiragem do " Tales by Edgar A. Poe" e "The Raven and Other Poems".
O ano de 1846 foi trágico. Poe colocou para alugar a pequena casa em Fordham, onde viveu os últimos três anos de sua vida. O " The Broadway Journal" faliu, e Virgínia ficou muito doente, vindo a falecer em 30 de Janeiro de 1847. Após a morte de sua esposa, Poe talvez se entregou com mais freqüência a uma fraqueza com bebida, que o atacava em intervalos, desde o início da sua vida adulta. Ele não conseguia tomar nem um pequena quantidade de álcool sem com isso afetar a sua personalidade, e todo o excesso era acompanhado de prostração física. Por toda a sua vida essas "indisposições" (causadas pela bebida) interferiram no seu sucesso como editor, e causaram a ele uma reputação de imoderado que na maior parte das vezes não merecia.
Nos seus últimos anos Poe havia se interessado por várias mulheres. Entre elas incluem-se as poetisas Sarah Helen Whitman, a senhora Charles Richmond e a viúva Sarah Elmira Shelton, que ele conhecia de sua infância como Senhorita Royster.
As circunstâncias da morte de Poe permanecem um mistério. Depois de uma visita a Norfolk e Richmond para dar aulas, ele foi encontrado em Baltimore numa sórdida taberna, pelo Dr. James E. Snodgrass, velho amigo, no dia 3 de Outubro, com roupas que não eram suas e numa condição deplorável. Se encontrava em estado de "delirium tremens" e foi levado ainda inconsciente ao hospital " Washington College Hospital", onde foi atendido pelo médico residente Dr. J.J. Moran, e onde morreu quatro dias depois, no domingo, 7 de Outubro de 1849. Foi enterrado no pátio da igreja Westminster Presbyterian Church, em Baltimore, Maryland.
Poe nunca conseguiu estabelecer um discurso suficientemente coerente, de modo a explicar como tinha chegado à situação na qual foi encontrado. As suas últimas palavras teriam sido, de acordo com determinadas fontes, «It's all over now: write Eddy is no more », em português, «Está tudo acabado: escrevam Eddy já não existe ». Outras fontes dizem ter sido as últimas palavras: " Lord help my poor soul", em português, "Deus, ajude a minha pobre alma". É dito também que chamava constantemente por um tal "Reynolds", revelando indícios de extremo desespero, um dia antes de morrer.
Nunca foram apuradas as causas precisas da morte de Poe, sendo bastante comum, apesar de incomprovada, a idéia de que a causa do seu estado ter sido embriaguez. Por outro lado, muitas outras teorias têm sido propostas ao longo dos anos, entre as quais: diabetes, sífilis, raiva, e doenças cerebrais raras. Uma das teorias mais comuns é a de que Poe foi vítima de "cooping" (sugerido em 1872), que era uma prática em que pessoas eram forçadas a votar (Poe foi encontrado em um dia de eleição em Baltimore), várias vezes seguidas em um candidato. Para isso as pessoas eram drogadas e embriagadas. Porém, o mistério continua.
Pessoalmente, Poe foi um homem tímido, quieto, porém bonito. Era magro, de altura mediana. Dizia-se que tinha uma boca bonita.
* Mais informações sobre Poe:
http://www.poemuseum.org/ (inglês)
http://www.eapoe.org/ (inglês)
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
Ópera Medéia no Rio - Estudantes R$ 2,00
Maiores informações
http://operanatela.com/filmes.php?id=32
Há outras óperas excelentes sendo projetadas. A projeção e o som sao muito bons, uma rara oportunidade de ver óperas.
Adalberto
Eucanaã Ferraz
Organizou os livros Letra só, com letras de Caetano Veloso (Companhia das Letras, 2003), publicado em Portugal (Quasi, 2002); Poesia completa e prosa de Vinicius de Moraes (Nova Aguilar, 2004), a antologiaVeneno antimonotonia — Os melhores poemas e canções contra o tédio (Objetiva, 2005) e O mundo não é chato, com textos em prosa de Caetano Veloso (Companhia das Letras, 2005). Publicou ainda, na coleção Folha Explica, o volume Vinicius de Moraes(Publifolha, 2006).
Edita, com André Vallias, a revista on line Errática (www.erratica.com.br). É professor de literatura brasileira na faculdade de letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.(www.eucanaaferraz.com.br)
Não saberia dizer a hora
em que me desfizera de tudo o que não era teu,
por tua presença sem margens
e deixou de haver um lado
que fosse fora de ti.
Eucanaã Ferraz, Rua do mundo (Companhia das Letras, 2004)
domingo, 11 de outubro de 2009
1.
Ela agora só pode amar
com a paixão contida
da borboleta espetada na placa de isopor.
(De vez em quando uma asa estala
e sai voando pela sala
e quer quebrar o abajur.)
2.
Trazia nas mãos pressurosas
o ramo das rosas do arrependimento.
E no botão da rosa mais vistosa
a abelha venenosa
que bulia por dentro.
3.
A raiva invadiu a casa
numa labareda violenta.
Crestou tudo!
Agora os dois carregam baldes de água
para dentro,
espionados pelos vizinhos,
que olham de longe,
por trás de gelosias engelhadas.
SANDMANN, Marcelo. Lírico Renitente. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.
Currículo Resumido
Marcelo Sandmann nasceu em Curitiba, em 15 de novembro de 1963. Graduou-se em Letras pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), em 1989, onde defendeu, em 1992, dissertação de mestrado intitulada A poesia de José Paulo Paes. Em 2004, concluiu doutorado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) em Teoria e História Literária, com a tese Aquém-além-mar: presenças portuguesas em Machado de Assis. É professor na UFPR desde 1992, atuando no curso de graduação em Letras e na pós-graduação em Estudos Literários.
Vem publicando poesia e ensaios sobre música popular e literatura brasileira e portuguesa em suplementos literários e revistas acadêmicas, como a Revista Letras, da UFPR, a Revista do Centro de Estudos Portugueses, da USP, ou ainda revistas de poesia e arte como Medusa, Babel, Sibila, Sebastião, Et Cetera, Oroboro, Poesia Sempre e Travessias (suplemento literário da Revista Camoniana).
Em 2000, veio a público seu primeiro livro de poesia, Lírico Renitente (Rio de Janeiro: 7Letras). Integra a antologia Passagens (Curitiba: 2002), de poetas paranaenses, organizada por Ademir Demarchi e publicada pela Imprensa Oficial do Estado do Paraná, na Coleção Brasil Diferente. Em 2006, lançou Criptógrafo Amador (Curitiba: Editora Medusa), que reúne poemas escritos desde 2000 até aquela data.
É também autor de canções, tendo lançado, em 1998, o CD Cantos da Palavra (Independente), com parcerias com Benito Rodriguez, interpretações de Silvia Contursi e produção musical de Paulo Brandão, premiado na categoria “Revelação” do IV Prêmio Saul Trumpet, “Os Melhores da Música Paranaense 98”.
Composições suas integram o repertório de diferentes artistas, como o grupo Fato (CDs Fogo Mordido, de 1996, Oquelatá Quelateje, de 2001, Oquelatá Vivo, de 2002, e Músicaprageada, de 2006), Rogéria Holtz (CD Acorda, de 2003), Alexandre Nero, Fabiano Medeiros (CD Achado, de 2002), Anna Toledo (CD Frescura, de 2005), Guêgo Favetti (CD Branco, 2007), Selma Baptista, Michelle Pucci, Vanessa Longoni (A mulher de Oslo, 2008) e o grupo ZiriGdansk. Tem ainda canções em parceria com os músicos Cláudio Menandro, Grace Torres, Ulisses Galetto, Glauco Sölter, Arthur de Faria (CD Música pra bater pezinho, de Arthur de Faria e Seu Conjunto, 2005) e Emerson Mardhine.
Em 2000/01, participou como curador regional para os Estados do Paraná e Santa Catarina do projeto Rumos Itaú Cultural Música - Cartografia Musical Brasileira, do Instituto Itaú Cultural. Em 2005/06, também dentro do Rumos Música do mesmo Instituto Itaú Cultural, teve duas canções de sua autoria, interpretadas por Fabiano Medeiros e Rogéria Holtz, selecionadas para registro em meio digital e divulgação em rádios de todo o pais.
Em 2007, selecionou e redigiu textos para o espetáculo cênico “Cores do Brasil”, apresentado pelo Coro da Camerata Antiqua de Curitiba no Teatro Paiol (2007 e 2008) e em festival na Dinamarca (2008), sob direção musical de Helma Haller e direção cênica de Jaqueline Daher.
Acima, o currículo resumido que foi generosamente fornecido (além de diversas outras informações e materiais) pelo próprio autor, em resposta à solicitação de dados.
Abaixo, o haicai-currículo:
Marcelo Sandmann:
Lírico renitente,
Cantor de palavra!
Este é o poema musicado, interpretado por Vanessa Longoni.
"As Coisas da Casa" é a terceira faixa do CD A Mulher de Oslo de 2009.
O show A Mulher de Oslo obteve o Prêmio Açorianos de Música, melhor espetáculo de 2006.
Algumas observações preliminares a respeito do poema de Marcelo Sandmann, escolhido para apresentação a ser feita em sala:
O poema "AS COISAS DA CASA", publicado no livro Lírico Renitente, tem três partes, três momentos. Na primeira parte, predomina uma situação, na segunda um acontecimento e na terceira um resultado.
Na frase, “As Coisas” esta determinado por “da Casa”. Os artigos empregados no título determinam casa e coisas.
A relação de conteúdo e continente (bem como a idéia de restrição) é manifestada durante todo o transcorrer do poema:
As partes são três, a segunda contida pelas outras duas.
No título, as coisas estão contidas na casa.
Na primeira parte, a forma de amar agora tem uma só opção: a paixão contida; a borboleta, antes no casulo, agora jaz espetada; o isopor, para ser fabricado, deve ser contido por um molde a fim de adquirir o formato desejado.
A segunda estrofe desta primeira parte esta contida pelos parênteses, e, até mesmo o ponto final esta dentro
"Ela agora..." nada mais contido que o infinitésimo presente: agora! Eternamente preso (ainda que em perpetuum mobile) entre os infinitos passado e futuro
Agora, mas por que não ágora? Praça principal da Grécia antiga, também, de certa forma, estava cercada por edifícios e continha quem e o que nela estivesse.
Quando algo preso se libera (justo a asa, símbolo de liberdade), à força de estalo, não sai pela janela, mantém-se dentro da sala. Quem sabe quer quebrar o abajur na tentativa de conter-se novamente.
Na segunda parte, o possuidor das mãos, que pressurosamente contém, esta trazendo (para dentro da casa) algo que também contém coisas: o ramo prende e contém as rosas dentre as quais a mais vistosa (fechada, em botão), cujo conteúdo é a abelha. Nela esta o veneno, que só sai do ferrão para dentro de algo ou alguém. Talvez um veneno contendo futura invasora: a raiva.
Na terceira parte, a raiva (sempre contida antes de poder se manifestar) entra à força na casa: invade! Invasão é “ir para dentro”. Não sem forma ou limite (contorno, borda), mas sim como labareda violenta.
Como resultado, crestou tudo. Crestar, em que pese o seu significado atual (tostar, queimar de leve), tem como étimo o verbo latino crustare, que significa cobrir, revestir e também dá origem a palavra crosta.
Os dois carregam baldes de água para dentro. Podiam trazer, ter ido buscar, mas carregam. Carregar é “por carga em”.
Nenhuma menção é feita a saída. Até quando a idéia de estar fora é transmitida, logo se esvai quando percebe-se que o sair acontece puramente para que se possa, outra vez, entrar.
Os baldes contém água, elemento extremamente ligado à ideia de continente e conteúdo transmitida. Pois, de modo similar aos dois que a carregam no poema, sempre que flui, o faz para ser novamente contida ciclicamente: jamais sossega senão quando contida.
Os acontecimentos finais desenrolam-se intensificando a mesma ideia. Os dois são espionados pelos vizinhos. Pacientes e não agentes da ação.
Quem espiona coleta informação com o intuito de trazê-la ou envia-la para o lugar de onde nunca pode (de maneira figurativa) sair, pois é lá onde mora seu coração (nem que seja esse uma enferrujada caixa-registradora). Não se espiona sem estar-se preso a algo. O que se espiona é captado para entrar em outro lugar.
Espionar se faz às escondidas, secretamente, disfarçado, infiltrado, muitas vezes de maneira latente.
Os próprios agentes da ação, os vizinhos, devidamente contidos nas casas e na atitude, olham de longe, por trás de persianas com lâminas na horizontal, que dão o corte final ao poema.
Ricardo Borges
PS.Não conseguí dar o formato original ao último verso do poema, que graficamente se inicia exatamente abaixo da letra "m" da palavra "olham".
PS.2 Segue o vídeo com outro poema do Marcelo Sandmann cuja letra, interpretada pelo próprio, é extremamente significativa e, infelizmente, bastante atual.
2 - SANDMANN, Marcelo. Criptógrafo Amador. Curitiba: Medusa, 2006.
Marcelo Sandmann:
Lírico Renitente,
Cantos da Palavra...
sábado, 3 de outubro de 2009
Poema de Marcelo Sandmann mencionado durante a aula de 29/09/09, quando falávamos sobre tempo no poema "Aceitação" de Cecília Meireles analisado pelo José Luiz:
QUANTO TEMPO DURA UM POEMA?
Quanto tempo dura um poema?
sobre a página?
O tempo do corpo
vida afora?
O tempo da pátina
na memória?
Quanto tempo dura um poema?
Este poema.
Este,
que você lê agora.
SANDMANN, Marcelo. Lírico Renitente. Rio de Janeiro: 7Letras, 2000.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
"Soneto da Fidelidade"
Sem dúvida, em bastantes poemas, o "Amor" é tema central, garimpo de grandes poetas e celeiro de obras imortalizadas. A poesia, não raras vezes, trata da relação imanente entre o desejo do amante e da coisa amada. É genitivo (origem de...) e acusativo (movimento para...)Esses movimentos se completam na verve poética-amorosa.
A poesia não é só constructo do amor. Há, todavia, predileção por assuntos que o evoca a fim de catárticamente senti-lo. Esse setimento na arte, se sublima, torna-se mais nobre, ou até mesmo erótico e infame. Pode-se afirmar que se trata da temática mais conhecida, que denota a ligação do eu-lírico com seus amores, com seus sofrimentos, suas angústias, com a coita, dores, alegrias etc.
Estes elementos supracitados estão sobremaneira arraigados no poema cuja temática trata do amor; um nome evoca o outro. O amor seguramente tem sido, das temáticas literárias a mais requisitada, seja em que tempo for, seja em que cultura for. Fonte inesgotável à qual os escritores recorrem constantemente, sua existência está presa à própria essência humana, condição fundamental na tessitura da vida, que leva os artífices da palavra a abordarem-no a cada momento. Particularmente aos poetas, ele mais tem servido, já que na poesia, tradicionalmente, está o lugar por excelência para a presença do amor. O afeto o amor e lirismo coabitam em poemas, dando-lhes uma caracterização de profunda sensibilidade.
Essas combinações atingiram tal ponto que, ao povo comum, poesia poesia tornou-se sinônimo de amor: poesia é texto que fala de amor. A saber, sua amplitude é de abrangência universal- todos humanos amam, e reconhecem esse sentimento, com intensidade diversa.
Realizando uma incursão na trajetória da literatura de língua portuguesa, observa-se que desde seu início com o trovadorismo até primeira década do século XX, o amor pode ser observado em posição de notório relevo e com perfil mais ou menos delineado. Sua expressão ocupa lugar privilegiado nas cogitações e emoções poéticas, ainda que de maneira fingida, não ôntica e convencionalmente considerado como não racional é o amor o germe de muitas criações. É o amor causa e efeito de ações, atitudes e sentimentos. Por ele se vive e se morre.
Vale notar que em todos os momentos e épocas, sua posição é a de absoluto senhor, a esse sentimento são submetidos e rendidos pobres e ricos, vassalos e nobres, súditos e reis. São essas manifestações amorosas de que tratamos em muitos poemas.
Em Vinicius de Moraes, o amor não é a causa, mas a origem de tudo. O Amor em o "Soneto da Fidelidade" não se serve de espaço geográfico, nem físico, tampouco depende de que haja um contexto objectual, ôntico para que lhe dê substância. A substância seria o próprio sentimento (ideal), condensado em si mesmo, como forma de amar o "amor". O translado para um ser Ôntico seria reflexo de um comportamento Platônico, cujo cerne é o amor em sua epfania no campo das ideias.