sábado, 12 de dezembro de 2009

Ao ler essa matéria achei super interessante e acredito que esteja dentro do contexto dos nossos estudos.

Vale a Pena Ler a Literatura Brasileira Contemporânea?

Bom, vamos aos fatos: a literatura contemporânea que temos é essa aí. Ponto. Boa ou ruim, ela existe. Está nas livrarias e bibliotecas e, aceitando ou não, são livros já publicados. Outro ponto: ainda não é possível analisarmos tais obras com grande isenção, por causa de uma série de fatores. Às vezes somos benevolentes, outras vezes beligerantes. Então, com o passar do tempo – e o marketing se preocupando menos com a obra – as qualidades que vimos serão ou confirmadas ou descartadas. Outras vezes os erros que apontamos passam a ficar cada vez menores e na balança, a obra acaba sendo melhor avaliada. Com isso em mente, acho que tanto os que afirmam que não vale a pena, como os que afirmam que vale a pena, têm razões válidas.
Os que afirmam que não vale a pena a leitura de literatura contemporânea têm um ótimo motivo para isso: de tempos em tempos, um autor (que ninguém sabe bem o porquê) é eleito pela mídia como favorito e passa a carregar o rótulo de ‘modelo a ser seguido’. Daí, vários outros autores menores se espelham nele (que é a unanimidade) e começam a escrever segundo aquele modelo. Poucos inovam, muitos pioram o que já era duvidoso. Como todos estão sendo influenciados a apreciar certo estilo, aquele autor menor acaba vendendo bem, incentivando outros menores ainda a seguirem a mesma trilha. Portanto, todos que estão acostumados a tentar separar o joio do trigo já sabe o resultado disso. Os anos noventa ainda estimularam essa atitude por causa de alguns agravantes. O resultado geral costuma ser tão ruim, que é melhor esperar algum tempo para melhor perceber quem realmente prevalecerá como sinônimo de qualidade.
Os que afirmam que vale a pena (e me incluo entre esses) a leitura, reconhecem que sempre existe aquele desejo insaciável de descobrir um bom livro, um livro surpreendente, que faça valer nosso tempo. E descobrir bons livros é uma sensação muito boa. Como não gosto de perder tempo com livros ruins – aliás prefiro ser visto como preconceituoso a ler um livro ruim somente para ter o direito de criticá-lo – valorizo bastante um bom livro e os ruins que eventualmente caem em minha mão, procuro descobrir o quê exatamente falta. O exercício serve de estímulo para aprimorar a capacidade de apreciação de uma boa obra. Por mais seletivos que sejamos, se lemos com regularidade, eventualmente apanhamos um livro ruim. No caso da literatura contemporânea, a possibilidade aumenta, conforme mostra o parágrafo anterior.
Portanto, acredito que é salutar um certo equilíbrio. Não vejo com bons olhos a afirmativa de que é preciso ler tudo o que é publicado para que se possa descobrir o que é realmente bom. Mas também não acho que o leitor deve simplesmente se isentar da literatura contemporânea pelo simples fato de que é bastante difícil ler algo bom hoje em dia. Por exemplo, da lista citada no primeiro post, já escrevi sobre “Nove Noites” de Bernardo Carvalho, que é excelente. Claro que é impossível não notar que falta algo na literatura atual. Mas ao mesmo tempo, seria uma injustiça não procurar destacar a qualidade de alguns escritores contemporâneos.
Fonte: odisséia literária
Poemas

A função de ler os poemas e interpreta-los é buscar uma definição de que é poesia . As formas são deiferentes mas, convergíveis , a ideia de contínuo , descontínuo, talvez não se consiga achar uma definição. Porém o que se pode conseguir é aprender a entender o poema, o valor das imagens, as palavras que projetam sejam através da visão ou da audição ; e outra maneita é procurar a ler e entender um poema.

ZUNÁI - Revista de poesia & debates


ZUNÁI EM DEBATE

É possível conciliar experimentação formal e lirismo na criação poética?


Adalberto Muller: A oposição posta aqui entre lirismo e experimentação estética me lembra a oposição famosa que Valéry discutiu, sobre poesia e pensamento abstrato. Como ele, gostaria de encurtar a distância que parece estar separando essas noções, lirismo e experimentação estética. Em primeiro lugar, pergunto-me: o que se entende aqui por "lirismo"? Um tipo de poesia que exprime emoções, que lida com temas amorosos, ou, no mínimo, sentimentais, tudo envolto numa atmosfera antiquada e pesadona? Por outro lado, a expressão "experimentação estética" parece evocar procedimentos típicos da modernidade e das vanguardas, que, por sinal, abandonaram os velhos temas da tradição do "lirismo". Do modo que está, então, posta essa questão, diria que as duas noções são excludentes, num primeiro momento. Pois a experimentação estética da alta modernidade (com Baudelaire, Mallarmé, Eliot, Drummond, Concretismo), ao negar as formas clássicas do lirismo, negou também sua vertente temática mais sentimental, herdada do romantismo. O famoso mini-poema de Oswald justamente desconstrói esse lirismo: "AMOR // humor". Por outro lado, como ouvi certa feita de Paulo Henriques Britto, a demanda lírica da sociedade foi passando paulatinamente para o território da canção popular, assim como a demanda narrativa, anteriormente coberta pelo romance, foi passando para o cinema e a tevê. A canção popular, até bem recentemente, nada mais era do que um lugar de expansão de velhos temas do lirimo. Isso ocorre, por exemplo, na chamada canção "romântica", que, nos anos 50, no Brasil, tratava basicamente da chamada "dor-de-cotovelo". No que tange a poesia, e particularmente a poesia brasileira, ficamos bastante marcados pelo anti-lirismo de João Cabral. O que ele queria dizer com anti-lirismo? Uma poesia que não trata, justamente, da dor-de-cotovelo. É preciso lembrar que a poesia de Cabral surge no auge desse tipo de canção, que, quase exclusivamente, trata de amores e desamores; na época de Dolores Duran, Linda Baptista, Herivelto Martins, Elizete Cardoso. Então, o que João Cabral propõe é uma espécie de "limpeza", uma poesia voltada para as coisas, uma poesia que nega o sentimento (atenção: não se pense que negue a subjetividade!) em favor, justamente, da experimentação. Antes de Cabral, Drummond, com todo o seu sarcasmo, já dava marretadas no lirismo sentimental (veja-se o excelente "Necrológio dos desiludidos do amor"). Mas felizmente tivemos também um Manoel Bandeira, em cuja poesia o lirismo ressurge no que ele tem de primordial, de grego, mesmo: a associação entre o canto e o mundo dos afetos. Não nos esqueçamos que a origem do lirismo é grega, e tem a ver com o fato de Orfeu ter feito uma lira com suas tripas, para resgatar sua amada Eurídice do inferno. Estamos marcados por esse gesto, ainda que seja um mito. É verdade, porém, que, entre os jovens poetas, os temas tipicamente líricos não estejam muito na ordem do dia. Recentemente, organizando uma antologia cujo tema é Amor e Morte na poesia brasileira, pude constatar que grande parte dos poetas contemporâneos pouco escreve (pelo menos diretamente), sobre esses temas essenciais do lirismo ocidental. Em muitos casos, por influência de Cabral e dos Concretos, ou ainda, por infuência dos poetas americanos (como os imagistas, os objetivistas e os da L=A=N=G=U=A=G=E). Aos jovens poetas, interessa mais a anotação das sensações, mais que dos sentimentos. E mesmo os sentimentos, no mundo pós-modernos, se modificaram, sobretudo com a diversificação sexual mais explícita, e com a sensível modificação das práticas erótico-amorosas. De minha parte, acredito que lidar com temas líricos como o amor (e suas adjacências), não significa abrir mão da experimentação (ou seja, da modernidade). Meu mentor, nesse caso, é o poeta que, a meu ver, melhor soube conciliar os temas clássicos do lirismo com a experimentação estética mais ousada da poesia moderna: e.e.cummings. Gosto de escrever sobre temas que deveriam ser expressos em elegias, odes ou epitalâmios, mas submentendo-os a uma nova configuração verbal e gráfica. É o que tentei fazer, em boa parte dos poemas que publiquei em Enquanto velo teu sono. Num dos poemas desse livro, por exemplo, exploro a possibilidade de falar do amor sem nomear expressamente o verbo amar, mas apenas aludir a ele:
ENQUANTO

rabisco um verso
mil trilhões de estrelas
brilham - estralam? -
e euponto perdido no universo
entre mercúrio e urano
arrisco um verbo
que
nos
constela.

Em suma, acredito que os grandes temas líricos, na mesmo medida em que ganham novas formas de expressão, vão também influenciando a formação de novas experiências e experimentações. Pois o amor, que é a base e o fundamento do gesto órfico, não é uma experimentação - e o que é mais - estética?
Adalberto Müller nasceu em Ponta Porã (MT) em 1966. Publicou Ex Officio (Paris, 1995) e Enquanto velo teu sono (7 Letras, 2003), além de traduções de Ponge, Celan e e.e.cummings (a sair, pela editora UnB, coleção poetas do mundo). É professor de literatura e cinema na UFF.
Entrevista de Adalbert Muller a revista Zunái, especializada em poesia.
Zunái ano v - Edição XVIII- agosto de 2009




Adalberto Muller nasceu na fronteira do Brasil com o Paraguai, em Ponta Porã. Do outro lado se chamava Pedro Juan Caballero. Filho de um teuto-brasileiro com uma paraguaia, cresci ouvindo 4 idiomas: português, espanhol, guarani e alemão. Da rua onde eu morava (Avenida Internacional), era possível ver o outro lado, o Paraguai, pois a fronteira é seca, ela pode ser cruzada a qualquer hora, a pé ou de carro, sem controles de passaporte. Mas só quem nasceu lá sabe onde se pode e onde não se deve cruzar a fronteira. Quando pequeno, me disseram que a separação entre os dois países era uma tal “linha imaginária”. Nunca consegui ver a linha, só os dois marcos de concreto (um em cada extremo das cidades). Aos poucos descrobri que havia vários tipos de fronteira. Inclusive internas (...)
Minha experiência de fronteira está registrada de maneira sintética num poema que publiquei no livro Enquanto velo teu sono (7Letras, 2003), e creio que ele define o tom do documentário de poesia:


Épura
Já não estou mais
onde nasci
nasci onde
nunca estive
hoje vivo
na fronteira dos ventos
na linha imaginária
que sobrou entre os marcos
Invisíveis de um mundo
que se move

Adalberto Müller, Enquanto velo teu sono, 2003.
Resenha de Enquanto velo teu sono / Diário Catarinense - caderno Cultura (29/05/04) / Correio Brasiliense - caderno Pensar (26/06/04)
ADALBERTO MÜLLER: A TRADUÇÃO DA MELHOR TRADIÇÃO Ricardo Pedrosa Alves

Enquanto velo teu sono é um livro de afirmação. Se na primeira publicação, em geral os poetas apenas praticam a gestação, é na segunda que a legitimidade deve se configurar. É preciso ser mais poeta no segundo livro. E Adalberto Müller consegue, ao usar palavras para escrever coisas que nem sempre podem ser postas em palavras: configura-se aí o poeta, não mais em gestação.Paulo H. Britto, na orelha do livro, assinala que "não há melhor laboratório para a criação poética do que a tradução de poesia. O trabalho de recriar no seu próprio idioma a experiência poética vivida numa língua alheia apresenta ao poeta-tradutor todos os problemas formais da criação poética, fornecendo-lhe apenas um ponto de partida de natureza já textual, o que nem sempre é o caso quando se trata de compor um poema novo". A questão é até que ponto este privilegiado exercício de técnicas não implica apenas na construção de poesia de gabinete, uma poesia de CDF's. Adalberto lançou traduções de poetas franceses, ingleses e alemães. Sei também que é perito tradutor de cummings. Escreve muito bem em francês e em espanhol. Insere-se numa tradição, a da origem da nossa poesia. Para quem não sabe, o primeiro livro impresso por um brasileiro, em se tratando de poemas, foi "Música do Parnaso" (1705), do baiano Manuel Botelho de Oliveira, que trazia versos, além dos em português, em latim, em espanhol e em italiano, ou seja, uma obra latino-ibérica.Quero falar da tradução da tradição, o que implica em ver o momento atual (dos anos 80 para cá) como de revaloração da nossa herança poética (menos que a incorporação de novos repertórios): o momento anterior representou o amálgama entre poesia e produção crítica (mais a produção de traduções), além da conquista do rigor, da revisão do modernismo a partir do concretismo e da abertura às outras linguagens, seja a visual ou a musical. Ler a tradição para a transgredir foi o que as vanguardas impuseram aos poetas seguintes. Estava criada a tradição da transgressão. Vamos analisar como a leitura da tradição operou nos poemas de Adalberto Müller (sintomático: agora o autor extraiu o "Jr." que o acompanhava no primeiro volume, como um ato falho de excessiva postura de discípulo, já superada).Importa-nos assinalar o aprendizado desta outra faceta da tradução poética (a leitura criadora), não a que se faz entre duas línguas, mas a que se dá entre duas ou mais linguagens, a tradução da tradição. Se no primeiro livro, a plaquete Ex Officio (1995), é cansativa a postura rebarbativa de aluno de João Cabral, principalmente a overdose de aproximações poéticas à pedra enquanto vórtice, se ali não se tinha muita esperança de um poeta vigoroso, no segundo isso acontece. Ser aluno de João Cabral em si não é um mal, ser só aluno é que é mal. E foi até um pecado comum. Benedito Nunes, analisando a poesia dos anos noventa, disse sobre a matriz daquela geração: "a influência maior é seguramente João Cabral de Melo Neto, imitado, glosado e assimilado".Agora, em Enquanto velo teu sono, as imagens saem do João Cabral-clichê-pedra para lerem o melhor João Cabral, o das imagens surrealistas da primeira fase, como na "Pedra do Sono" (1940-41), em que sonhos de insone trazem imagens como brumas do pensamento. O sono, o silêncio, o oco. Também há na primeira fase de João Cabral o frásico, o que o aproxima, neste período, aos poetas de expressão francesa Michaux e Francis Ponge, (de quem Adalberto Muller também é cultor: traduziu de Ponge "Le parti pris des choses"). É o melhor Cabral e o melhor Müller, pois vê com olhos de Picasso e monta os poemas quase como no cubismo da fase azul do artista plástico, onírica. Nesse sentido, o livro de Adalberto essencialmente rompe a oposição entre criação e crítica, como fazem desde sempre os melhores poetas. Ao traduzir também linguagens, o ganho em originalidade é estabelecido, pois provém da melhor origem. Percebo isso na série que dá título ao livro. No poema "Enquanto velo teu sono", trata-se de passar ao lado da lembrança daquilo que foi esquecido. Lembrar-se do que não pode ser esquecido porque não foi inscrito. É possível ? Trata-se de uma presença que o espelho não pode refletir, mas que o quebra em migalhas. Algo fora do espaço-tempo, como na metáfora. Nesse sentido, um certo alheamento, um certo desterro seriam condições ideais para a melhor apreciação do livro do poeta de Ponta Porã, nascido em 1966. Trata-se da busca de uma presença fora do espaço-tempo, ou seja, algo que ainda não é presente ou já não é presente. Os últimos versos do poema:
A cama toda se alagandoentra por meus olhos cheiosdo líquido que derramamteus cabelos.
É preciso saber dosar a beleza. Não perfumar a palavra flor. Certa beleza excessiva e flácida me irritou no livro. O pendor pelo preciosismo, baseado numa tendência ao culto do "elevado" como legitimação do poético. Às vezes fica meio livresco, com cheiro de dicionário (a poesia de CDF's). Em entrevista no livro Musa paradisíaca (2004), o próprio poeta afirma que a tradução o levou a inúmeros dicionários, "que hoje são meu escudo contra a facilitação ou contra o falseamento da expressão a que a língua - no estado em que a herdamos - nos condiciona". Mas nem sempre dicionário demais é bom, soando às vezes como a facilitação (citação gratuita) que deveriam combater. O carioca Carlito Azevedo, de dicção poética bastante próxima da de Adalberto Müller, adverte para o culto da cultura em detrimento da vivência, do culto da experiência, como característica dos poetas de nossa geração. Os poetas atuais estariam vivendo experiências de laboratório, de gabinete (caso em que também se poderia enquadrar Carlito Azevedo). Se não é sintático este culto do "elevado" em Adalberto, ao menos é vocabular, o que torna muitas vezes piegas as palavras 'poéticas pela própria natureza'. Perfuma-se a palavra flor. Ocorre que cada palavra (à diferença do timbre, na música, ou do matiz, na pintura) traz em si uma história: como então conseguir a apresentação num poema ? A solução kantiana é a da evocação (apresentar o inapresentável), ou seja, uma apresentação negativa. O que é sublime é que ocorra (o poema) em vez do nada. O sublime é agora e é na contenção que o grandioso se apresenta. Mas a contenção já se aproxima na poesia de Müller. Percebo uma dicção mais contida, talvez influência de Paul Celan (e de cummings, outro exímio montador pós-cubista) e a busca das palavras essenciais, não supérfluas ou superficiais. Talvez seja este um grande novo caminho que se abra, embora o surrealismo também possa eclodir em sua poesia futura, pois o poeta aprecia a lucidez, embora de porre, como nos adverte no início do livro. A melhor poesia que Adalberto pode nos legar é a que procura a melhor tradição, conseguindo liberdade para construir seu próprio caminho poético, tratado de forma emblemática no poema como no poema é pura.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

SINOPSE: O Escaravelho de ouro

O Escaravelho de ouro
Trata-se de um conto ambientado no século XIX, numa pequena ilha ao sul dos Estados Unidos, no estado da Carolina do Norte. A narrativa tem como fulcro a história de três amigos (e um cão Terra Nova) numa caça ao tesouro perdido. O ponto central é o escaravelho de ouro, encontrado numa praia, torna-se, a partir daí, objeto de devoção e de apreço do senhor Willian e cerne do qual se desencadeia as ações da narrativa.
O escaravelho de Ouro é um conto (arabesco) que congrega três personagens: Willian Legrand, um homem que perdeu todos os seus bens no continente e resolveu residir em uma pequena ilha; Júpiter- amigo fiel e espécie de escudeiro que o acompanha sempre; e o narrador, que atua afetivamente na história como narrador-personagem.
O desencadeamento da narrativa inicia quando Willian Legrand encontra na praia um escaravelho de ouro e um pergaminho com desenho de uma caveira. A partir daí, o Willian começa a ter seu comportamento alterado de forma abrupta, a ponto de se questionar sua sanidade mental. Júpiter e o narrador-personagem desconfia que seu sofre de um mal.
O escaravelho passa a ser ponto de discórdia entre os amigos, uma vez que afetara de forma decisiva o pensamento do “sinhô” Wiil. Com poucas palavras, Willian Legrand mergulha em si , sobretudo nos objetivos que tencionava que só ele sabia.
Com tantas ideias, convenceu Júpiter e o personagem-narrador a embrenharem-se na selva densa e inóspita sem, contudo, saber a finalidade daquela feita. Entretanto, para não deixá-lo ir só na dita empreitada, acompanham-no, sobre a condição de que ele se cuidaria com um médico ao voltar.
Legrand, na verdade, estava à procura de um tesouro de pirata. Em seu achado (pergaminho), encontrou signos que passou a decifrar, desenhos que passaram a conotar sentidos mais emblemáticos: iminência de um tesouro pirata, enterrado aos pés de uma arvore.
Uma vez na selva, Júpiter, o personagem-narrador e o senhor Wiil cavavam o solo em busca de um tesouro perdido. Entre sanidade e loucura, todos estavam extasiados com aquele momento atípico: três homens na madrugada a cavar um buraco sem nenhum motivo provável. Enfim, depois de alguns erros de cálculos e retorno das atividades de cavouqueira encontram um baú repleto de jóias de ouro e diamantes. O escaravelho, fora por sinal, apenas um subterfúgio, toda simbologia, todo arcabouço teórico-interpretativo para se chegar ao tesouro estava em um pergaminho.
Depois de ter obtido êxito, e solenemente ter recuperado o status de são, Willian Legrand passou a explicar um método de análise que o levou ao descobrimento do tesouro. O conto (arabesco) remonta ao suspense, ao ambiente de mistério, de investigação.
Boa leitura e boa caça ao tesouro ao leitor que se aventurar!!!
O barril de Amontillado - SINOPSE



Montresor guarda consigo forte mágoa contra Fortunato, que o injuriou várias vezes, e decide vingar-se dando fim à vida de seu desafeto de maneira que a vítima saiba quem se vinga e que o crime permaneça impune.

Fortunato somente descobre seu funesto destino quando não mais pode evitá-lo. Montresor concretiza sua vingança e permanece impune.



POE, Edgar Allan. O barril de Amontillado. In: Histórias extraordinárias. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008, pp. 101-108
Considerações sobre o conto O Barril de Amontillado - POE



Edgar Allan Poe soube, como poucos, abordar terror, mistério, sentimento e fantasia. Os temos por toda sua obra em cujo conteúdo depara-se com o bizarro, como em Os Crimes da Rua Morgue¹; com o sobrenatural; com o extraordinário; com sentimento de vingança, como no conto em questão e diversos outros temas menos comuns na literatura ocidental.

De fato, Poe foi pioneiro da moderna corrente de escritores que tem como tema o crime e o mistério por meio da figura do detetive.

Um dos que o seguiu foi Sir Arthur Conan Doyle, criador da personagem que melhor encarna a figura do detetive: Sherlock Holmes. Tamanha proporção tomou esta personagem, que Sherlock Holmes foi trazido de volta, dez anos depois de morto em livro, através das mãos do autor em mais algumas de suas obras. Doyle foi também consultor da Polícia britânica em diversos casos de crimes reais nos quais seu auxílio, pautado nos mesmos moldes de dedução de Holmes nos livros, levou a polícia a solução dos casos. Sherlock Holmes ganhou as telas em diversos momentos e encontra-se presente no imaginário de boa parte da humanidade.

Existem várias citações (em tom de crítica) das personagens de Poe nos livros de Doyle. Logo em seu primeiro livro, Um Estudo em Vermelho, Sherlock Holmes, quando comparado com Dupin, classifica-o como “um sujeito bem inferior”.

O Barril de Amontillado,³ conto escolhido para análise, trata de vingança, um tema bastante recorrente e comum, não tivesse dado Poe vida ao lugar comum de forma tão criativa. A premeditação da personagem principal elaborada no texto é eficaz e tem um desenlace extraordinário ao final.

O conto serviu de inspiração para filmes, peças teatrais e até mesmo para uma música do grupo The Alan Parson’s Project.

O barril de Amontillado é escrito em primeira pessoa, o que de certa forma torna o texto mais realístico e auxilia no desenvolvimento da trama. O tema vingança é tratado de maneira técnica e com frieza por parte de Montresor, personagem principal.

Figurativamente o núcleo do título do conto, barril, representa o desfecho da trama, especialmente levando-se em consideração que o barril não aparece no enredo a não ser como engodo para que Fortunato, a vítima da vingança, comporte-se de maneira que vá ao encontro dos planos de Montresor.

Montresor comete um ato perverso. Psicologicamente, a personagem principal é classificada como perversa: não possui sentimento de culpa ou angústia; mantém forte relação com a realidade; suas funções cognitivas estão preservadas; sua relação com a Lei é ambígua, pois sabe que esta existe e ainda assim faz a própria lei, e mantém, como todo perverso, vida dupla, sua vida criminosa aparta-se totalmente de sua vida social.

Montresor segue fielmente a estrutura do ato perverso: em sua relação com o outro, ignora a condição de sujeito da vítima, reduzindo-o a condição de objeto.

O conto de Edgar Allan Poe tem como assunto a vingança, mas não uma vingança qualquer. Segundo a personagem principal, uma vingança deve apresentar alguns aspectos para que se torne perfeita: a impunidade da chamada pena aplicada cujo autor jamais deve sofrer em razão de seus feitos, e o reconhecimento, por parte daquele que se torna alvo do revide posterior, da identidade de quem a perpetrou.

Montresor, a personagem principal, elabora o plano perfeito e põe-no em ação durante o carnaval italiano, quando, aparentemente por acidente, esse encontra Fortunato bastante embriagado e dá assim os primeiros passos além do que o Direito denomina cogitação e atos preparatórios. Assim, dá início à execução do que virá a ser o infortúnio da vítima quando consumada.

Conduz sua obra por meio do elaborado ardil. Sabendo ter-se a vítima em alta conta como enólogo, utiliza como engodo a existência de dúvida quanto à origem de um pretenso barril deste vinho, tão raro em pleno carnaval.

Em que pese seu nome, a vítima tem a fortuna voltada contra si rapidamente. Como que por vontade própria, Fortunato age ao encontro aos planos do agressor e o segue até as entranhas das cavernas de salitre, que, prestavam-se à catacumbas da família Montresor e faziam as vezes de adega quando do ato no qual passaram, convenientemente, a repouso de um membro de outra família.

O brasão dos Montresor é um detalhe que praticamente inspira a compreensão do conto: um enorme pé humano de ouro sobre um campo azul; o pé esmaga uma serpente cujos dentes estão cravados no calcanhar A legenda: Nemo me impune lacessit (Ninguém me fere impunemente). (POE, 2008, p.104).

O sombrio percurso, feito pelos dois, é úmido e embriagante como as garrafas de vinho sorvidas, e termina em uma mórbida cripta onde se dá o desfecho extraordinário deste conto.

Montresor com agilidade algema Fortunato à parede do nicho especialmente reservado para ser sua cela mortal. Este percebe lentamente a terrível trama da rede que o captura na medida em que aquele, com camadas de pedras e argamassa, sela seu destino com a última pedra acomodada. Após recolocar o velho monte de ossos, que permanece sem perturbação por meio século, esconde sua vingança - bem sucedida afinal.

Cask, barril em inglês, núcleo do título deste conto, representa muito bem este final, no qual o alvo da vingança jaz contido por trás de ossos empilhados.





1 - POE, Edgar Allan. Histórias extraordinárias. São Paulo: Abril Cultural, 1978.

2 – DOYLE, Arthur Conan. Um estudo em vermelho. São Paulo, Círculo do Livro, s/d.

3 – POE, Edgar Allan. O barril de Amontillado. In: Histórias extraordinárias. São Paulo: Companhia de Bolso, 2008, pp. 101-108.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O coração delator

Sinopse: É a história de um homem que nega sua loucura e que está decidido a provar ao leitor de seu pensamento. Loucura, essa, se deu por um olho. Sim, um olho de pupila azul clara um tanto embaciada de um velho - que nunca lhe fizera mal - que morava na mesma residência. Logo no terceiro parágrafo confessa o assassinato com tranquilidade. O narrador se preocupa mesmo é com os detalhes de seu plano perfeito. Todas as noites ele ia até o quarto do velho e esperava pelo momento certo de cometer o assassinato, mas o olho nunca vinha... Até a oitava noite. Como se livrou do corpo? Simples, esquartejou o cadáver (cortou-lhe a cabeça, os braços e as pernas) e depois levantou três tábuas do soalho, ajeitou tudo no vão e tornou a colocar as tábuas no lugar. Após ter cumprido sua "missão", oficiais de polícia apareceram no local por conta do barulho denunciado por um vizinho. Nada tinha a temer, o crime era perfeito... Mas a loucura voltou. O barulho em sua mente era insuportável, não podia mais aguentar! Pronto, confessou o crime.


Características:

* Narrador em 1ª pessoa.

* Distância temporal.

* Personagens: O narrador, o velho, três policiais e um vizinho.

* Ausência de diálogos. Apenas duas falas (págs. 229 e 233).

* Nó: O olho do velho e o drama para cometer o assassinato.

* Desenlace: O assassinato.

* Grotesco.

* Efeito de suspense: A demora para cometer o assassinato e o desespero do narrador pela possível sobrevivência do velho.

* Frases curtas ("É verdade! / Agora, vejamos. / O senhor julga-me doido.").

* Descritivo (pág. 230 - "Não era um gemido de dor ou aflição - oh, não! Era o som abafado que sobe do fundo da alma carregada de pavor."), Deliberativo (pág. 228 - "Como então, posso estar louco? Escute! e observe com que lucidez - com que calma eu lhe posso contar a história.") e Narrativo (pág. 231 - "Depois, levantei três tábuas do soalho, ajeitei tudo no vão e tornei a colocar as tábuas, com tanta habilidade e tanta astúcia que nenhum olhar humano - nem o dele - poderia notar a menor anormalidade.").



http://www.youtube.com/watch?v=6D7aUJToxDg
(Animação do conto)

O Sistema do Doutor Alcatrão e do Professor Pena

Trata-se de um conto escrito na primeira pessoa. A história se passa no sul da França, onde o narrador visita um estranho estabelecimento isolado, certo manicômio dirigido pelo Dr. Maillard. Neste manicômio, os loucos são tratados por uma espécie de sistema, o “sistema de brandura” - uma espécie de teoria de cura em liberdade - na qual os pacientes não eram contrariados nas suas alucinações e fantasias. O tal doutor acreditava que podia curá-los dessa forma. Este leva o visitante a percorrer o estabelecimento e em um estranho banquete, ele encontra pessoas muito bem vestidas e educadas. É nessa altura que o narrador percebe que durante a vigência do “sistema de brandura”, os internados se tinham revoltado, encarcerado os médicos e enfermeiros e tomado conta do lugar.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009